Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Viola Davis, a 'Tela Quente' é tua!

Aos 60 anos, a atriz que é símbolo do combate ao racismo brilha na TV aberta com 'Mulher Rei', dublada por Sarito Rodrigues | Foto: Divulgação

Num empenho de fazer de novembro, o mês de Zumbi dos Palmares, celebrado a cada 20/11, uma data para se discutir a decolonização em vários âmbitos da dramaturgia, a TV Globo muda a cara da sua programação semanal de filmes, para ampliar o lugar das vozes autorais ligadas à luta antirracista, o que se faz notar já pela "Tela Quente" desta segunda-feira: "Mulher Rei" ("The Woman King", 2022), de Gina Prince-Bythewood. A transmissão será às 22h25, depois da novela "As Três Graças".

Com uma bilheteria de US$ 97 milhões, este épico antissexista provou o quão versátil Viola Davis pode ser na estrutura dos filmes de gênero. Sua trama resgata fatos históricos do Benim dos séculos XVIII e XIX, quando o país se chamava Reino de Daomé e era resguardado por uma horda de mulheres guerreiras. A imbatível Nanisca (Viola) é a líder desse exército e precisa treinar uma novata.

Inaugurada em 1988 com "Star Wars - Episódio VI: O Retorno de Jedi" (1983), numa dublagem em que Silvio Navas (1942-2016) dava voz a Darth Vader, a "Tela Quente" segue firme e forte no ar, 37 anos após sua criação, sempre às noites de segunda, na TV Globo, cumprindo o papel de apresentar ao público da televisão aberta tendências que transformaram o audiovisual, no circuito exibidor e noutras mídias, incluindo aí a diversidade. É o que justifica a escolha desta noite. Não esqueça de que o terceiro título exibido pela sessão, há três décadas e meia, foi "Annie Hall - Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), com Élcio Romar dublando Woody Allen e Adalmária Mesquita cedendo o gogó a Diane Keaton. Em 1994, em meio à Copa do Mundo que nos rendeu o Tetra, a sessão promoveu um festival com o legado de Bruce Lee no país, exibindo inclusive o cult "O Dragão Chinês" (1971). Em anos mais recentes, em 2017, teve exibição de "Relatos Selvagens", com direito a uma mega campanha de mídia e com uma feliz escalação de Márcio Simões para dublar Ricardo Darín. Já em meio à pandemia, projeções de "Bacurau" (2019), com Mauro Ramos dublando o alemão Udo Kier, e de "Corra!" (2017), deram uma tônica combativa à sua programação. Foram formas de mostrar que nem só blockbusters caça-níqueis compõem a sua grade. O que volta a se destacar com a presença de Viola Davis em cena, dublada por Maria do Rosário "Sarito" Rodrigues.

Foi a atriz Maria Bello (da série "Treta") quem concebeu a ideia para "The Woman King", lá em 2015, após visitar Benin, onde o reino retratado pelo filme se localizava. Lá, aprendeu sobre a história das Agojie, uma esquadra de guerreiras. No intuito de se firmar como produtora, ela recrutou a roteirista Cathy Schulman para desenvolver um argumento sobre as combatentes daquela região. Apresentou a ideia para vários estúdios, que recusaram o projeto devido a preocupações financeiras. Depois de se reunirem com a TriStar Pictures, em 2017, ela teve sinal ver para desenvolver a trama - isso em 2020, em plena covid-19. A produção começou na África do Sul, em novembro de 2021, mas acabou sendo interrompida, por algumas semanas, devido à variante Omicron do coronavírus, O trabalho foi retomado no início de 2022. Polly Morgan foi a diretora de fotografia. Durante a pós-produção, a trilha sonora foi composta por Terence Blanchard e a edição foi concluída por Terilyn A. Shropshire.

Entre os destaques da Globo desta semana que dão espaço à luta contra o racismo inclua a atração da "Sessão da Tarde" desta segunda, às 15h20: "Mãos Talentosas - A História de Ben Carson" (2009), com Cuba Gooding Jr. Na quinta, às 15h25, é a vez de Will Smith contagiar a emissora em "Depois da Terra" ("After Earth", 2013), de M. Night Shyamalan.