Em 2025, completam-se 15 anos desde que o Casseta & Planeta, Urgente! (1992-2010) deixou de ser exibido regularmente pela Globo. E, se depender dos antigos integrantes, o humorístico não voltará à tela. É o que diz Helio de La Peña, que fez história na atração ao lado de Bussunda (1962-2006), Hubert Aranha, Cláudio Manoel, Beto Silva, Marcelo Madureira e Reinaldo Figueiredo.
"Não temos vontade de retomar o programa, a situação é outra", diz, antes de explicar melhor seu ponto de vista. "O Cláudio Manoel tem uma boa definição: antes os caras eram eleitos por votos e hoje por devotos. Tem muita gente apaixonada pelos políticos de estimação, e é difícil fazer piadas com qualquer político sem ser massacrado", analisa o comediante, que lembra que, entre os anos 1990 e 2000, muitos parlamentares - da esquerda e da direita - não se levavam tão a sério como agora. Entrevistas satíricas com políticos sempre foram uma marca registrada do Casseta.
"Eles sabiam a hora de falar sério com um jornal e quando era hora de fazer graça. Hoje em dia fica mais complicado", reforça o ator, que atualmente percorre o país com shows ao estilo stand-up comedy e cuida da gestão de uma biblioteca comunitária no Morro da Babilônia, em Copacabana.
Porém, se ele e os demais integrantes do grupo mudassem de ideia e resolvessem reatar os esquetes, Helio diz que tudo seria adaptado para a atualidade. Segundo ele, é impossível pegar um quadro de 1990 e colocar no ar em 2025 sem mexer nem cortar falas. Os tempos mudaram.
"O humor é contemporâneo e teria de haver mudanças. Não faz sentido forçar a barra de trazer uma piada daquele tempo para hoje e querer que funcione. As pessoas naquela época também não se comportavam como as de hoje."
Para o ator, existe um sério problema no Brasil de "interpretação de texto e de compreensão do que se pode ou não falar". Ele cita como exemplo uma fala do personagem Caco Antibes (Miguel Falabella), do Sai de Baixo, que voltou a mandar Magda (Marisa Orth) "calar a boca" em esquete produzida para a festa de 60 anos da TV Globo, exibida no fim de abril.
"O Caco era um vilão, um mau-caráter que tinha esse bordão grosseiro. Na versão atual, Magda o corrigiu ao dizer que não se fala mais dessa forma, e ele respondeu que estava se desconstruindo. Não vejo motivo para amenizar o discurso do vilão, que sempre foi mau exemplo, como se fosse melhorar a sociedade. Esse é o tipo de confusão que acaba minando as chances de termos um humor tranquilo, leve e cuja mensagem todos entendam", opina.
Na festa dos 60 anos da Globo, aliás, os telespectadores puderam exercitar a nostalgia. E, no caso do Casseta, o público relembrou personagens como a Chicória Maria, interpretada por Helio como uma homenagem cômica a Glória Maria (1949-2023).
Nem mesmo a saudade dos fãs faz com que ele tenha o desejo de produzir algo novo para a TV. "As características do entretenimento e da sociedade mudaram. Antes tínhamos uma TV para toda a família se reunir naquele mesmo horário. Hoje é cada um no seu canto vendo e se distraindo com atrações sob medida para seu nicho", avalia.
Helio reconhece que o Casseta & Planeta marcou uma geração, mas que não é possível "voltar no tempo". O que foi feito está feito. "Nós conseguimos fazer humor de alto nível e popular, trazendo uma série de inovações, sem muitos bordões e com a cobertura do noticiário com piadas. Éramos garotos de 20 e poucos anos, mas, agora, com 60 e muitos, fico mais instigado com meus trabalhos solo", afirma.