Falta pouco para o Festival de Locarno chegar. No dia 6 de agosto começa a 78ª edição do evento cinéfilo mais prestigiado da Suíça, pertencente ao clube seleto de mostras competitivas de relevo do mundial (ao lado de Cannes, Veneza, Berlim, Toronto e San Sebastián) confiando à projeção de "Le Pays D'Aarto", de Tamara Stepanyan, a tarefa de ser sua atração inaugural. O Brasil foi premiado lá, com o troféu principal da maratona helvética, em 2022, quando "Regra 34", de Julia Murat, sagrou-se vencedor, sendo que o país ganhou a láurea de Melhor Curta, em 2021, com "Fantasma Neon".
No fim deste mês, como um esquenta em âmbito global para a seleção arquitetada pelo diretor artístico Giona A. Nazzaro, a plataforma digital Mubi exibe o vencedor do Leopardo de Ouro de 2024, que não conseguiu vaga em nosso circuito exibidor: "Tóxico" ("Akipleša"), de Saule Bliuvaite, lá da Lituânia. A produção gravita entre a perplexidade e a sororidade. Chega num momento de euforia para os longas passados de Locarno em vários streamings ao alcance da cinefilia brasileira, como a Amazon Prime, que hoje exibe o laureado longa de Murat e o cult "Zeros e Uns", de Abel Ferrara, agraciado em 2021 com uma estatueta prateada de Melhor Direção no contorno dos Alpes.
"Tóxico", que chega ao www.mubi.com no próximo dia 25, é protagonizado por Maria, de 13 anos. O papel é interpretado por Vesta Matulyte. Abandonada pela mãe, a menina é obrigada a viver com a avó numa cidade industrial deprimente. Durante um confronto violento na rua, ela conhece a aspirante a modelo Kristina (Ieva Rupeikaite). Buscando se aproximar dela, Maria se inscreve numa escola misteriosa que prepara meninas para o principal evento da região. A relação ambígua com Kristina e o ambiente intenso, com ares de culto, da instituição empurram Maria para um processo de autodescoberta - e de implosão.
Encantada com o fino trabalho de Nazzaro na curadoria de Locarno, a Mubi está sempre trazendo para o seu cardápio as descobertas que ele faz por lá, como é o caso de "Meduza Deluxe". Sua direção é assinada por Thomas Hardiman, uma promessa de renovação do audiovisual do Reino Unido, radicado em Londres. Nesse filmaço de 2022, ele trata um universo de salão de beleza e moda como se fosse um "Velozes e Furiosos", sem perder o bom humor jamais. Na trama, depois que um cabeleireiro é encontrado morto em um concurso de visagismo, os participantes restantes decidem descobrir quem é o assassino. Rivalidades e desconfiança crescem, enquanto um grupo de empenhados hairstylists suspeita que alguém está tentando fraudar a competição, eliminando competidores de forma macabra. É Agatha Christie com tesoura, escova e bobs.
Primeiro Leopardo de Ouro da Era Nazzaro, "A Vingança É Minha, Todos os Outros Pagam em Dinheiro" ("Seperti Dendam, Rindu Harus Dibayar Tuntas") está na Netflix. Vinda da Indonésia, essa fita - uma joia - não teve espaço em circuito por aqui. Em seu enredo, Ajo Kawi (Marthino Lio) quebra ossos alheios por dinheiro, trabalhando para um chefão do crime, cujos desafetos ele extermina a soco. Numa missão em uma empreiteira, ele esbarra com uma jovem tão furiosa e letal quanto ele: Iteung (Ladya Cheryl). Os dois têm uma luta mortífera da qual Kawir sai todo quebrado, mas vencedor. Obcecado com a mulher que, por pouco, não o fez beijar a lona, ele vai atrás dela e os dois se apaixonam e se casam, apesar de o problema dele persistir.
Em 2025, a competição pelo Leopardo dourado corre sob o crivo do júri presidido pelo diretor cambojano Rithy Pahn. O Brasil entra na produção de um dos concorrentes mais esperados: "Drácula", do romeno Radu Jude. O filme é produzido pela RT Features de Rodrigo Teixeira. Entre seus concorrentes, impõem respeito "Mektoub, My Love: Canto Due", do franco-tunisiano Abdellatif Kechiche; "As Estações", da portuguesa Maureen Fazendeiro; e "Dry Leaf", do fabulador georgiano Alexandre Koberidze.
Uma das atrações mais esperadas de Locarno este ano é a nova versão (agora musical) de "O Beijo da Mulher Aranha", o livro de Manuel Puig (1932-1990), que inspirou um dos maiores êxitos do diretor Hector Babenco (1946-2016), em 1985. Jennifer Lopez encarna o papel que foi de Sonia Braga. O longa, dirigido por Bill Condon, passa no encerramento do festival, e tem Diego Luna e Tonatiuh nos papéis que foram de Raúl Julia (1940-1994) e William Hurt (1950-2022), que ganhou o Oscar pela versão de Babenco, interpretando o decorador Molina.
