Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Uma Europa que a Marvel não mostra

O lançamento de 'Astérix na Lusitânia' aquece o mercado de europeu de quadrinhos, mas não vem só | Foto: Divulgação

Ao longo de quase 12 meses, "Absolute Batman", que chegou há pouco ao Brasil, via Panini, é o quadrinho que mais vende nos EUA e mais instiga encomendas planeta afora, sendo que uma recente parceria do Homem-Morcego com o Deadpool, num inusitado crossover das editoras DC e Marvel, tem mobilizado fortunas em quiosques e livrarias, além dos buscadores da web. Esse é o quadro do mercado quadrinhófilo americano, mas no Velho Mundo, 2025 tem sido um ano quente, tanto em vendas quanto em experimentações narrativas. A festa que as livrarias europeias estão fazendo com a chegada de "Astérix na Lusitânia" é de dar inveja a quem só publica romances, contos e textos corridos afins. O gaulês chegou quente, mas não é o único.

Ideiafix, seu cãozinho, está latindo um tantão, pois o herói criado por René Goscinny (1926-1977) e Albert Uderzo (1927-2020), ao lado de seu parceiro Obélix, não arreda o pé das caixas registradoras, desde 23 de outubro, quando foi lançado eu álbum mais recente, ambientado nas terrinhas peninsulares onde fica Portugal. "Astérix en Lusitanie" conta com a arte de Didier Conrad, quadrinista hoje responsável por dar sequência às peripécias gráficas do guerreiro criado na revista "Pilote", em 29 de outubro de 1959. Ele e o roteirista Jean-Yves Ferri já trabalharam no universo de Goscinny e Uderzo antes em "A Filha de Vercingetorix", lançado entre nós pela Ed. Record. Aliás, no apagar das luzes de 2024, a editora, localizada em São Cristóvão, colocou à venda um tijolaço de 152 páginas, chamado "Asterix Omnibus". O álbum compila missões clássicas do personagem. Uma das historietas se ambienta na Lutécia, onde os protagonistas precisam encontrar uma nova foice para Panoramix. Um volume dois já saiu.

Encantada por "Lusitânia", a França hoje gira as lojas especializadas em BDs (banda desenhada, nome local para HQs) também em busca do novo volume da saga "Undertaker", que chegou ao Brasil, faz pouco, traduzida pela editora Pipoca & Nanquim. É um bangue-bangue repleto de adrenalina, escrito por Xavier Dorison e desenhado por Ralph Meyer. Os dois narram os mil perigos que cercam Jonas Crow, um ex-soldado da Guerra de Secessão que troca a farda pelo uniforma de agente funerário itinerante. Cada caixão seu é repleto de pólvora.

Para além das peripécias dos gauleses e dos duelos de "Undertaker", o público leitor da Europa mira suas atenções na Itália, onde a Sergio Bonelli Editore (a casa de Tex e de Zagor) reina absoluta, a partir de Milão. De lá chega "Souzie-Q. Um retrato de Rocky Marciano", um álbum de 160 páginas com roteiro de Francesco Colafella e Carmine Di Giandomenico, que dividem os desenhos com o titã Tanino Liberatore. É a biografia ilustrada de um ícone do boxe, o pugilista Rocco Francis Marchegiano (1923-1969), que venceu por nocaute 43 das 49 lutas que venceu.

Mais famosa por seus títulos de western e de terror, a Bonelli aposta em sci-fi em um novo candidato a cult: "Mr. Evidence". Essa nova série regular é um thriller, com toques de espionagem criada por Adriano Barone (de "Nathan Never") e Fabio Guaglione (cineasta, diretor do filme "Mine"). A trama gira em torno de quatro indivíduos afetados por anomalias psicológicas que os levam a ver o mundo de uma maneira singular.

Uma das apostas quentes da Bonelli para este fim de ano é "Orbit Orbit", um projeto do músico Caparezza, cujas ilustrações foram realizadas por artistas que já colaboram há vários anos com a editora, como Sergio Gerasi, Yi Yang, Riccardo Torti, Nicola Mari, Marco Nizzoli e Renato Riccio. A capa é de Matteo De Longis. O miolo aborda viagens oníricas.

Numa linha mais próxima dos policiais, a Bonelli mete golaço com a graphic novel "Non Lasciare La Mia Mano", adaptação da literatura de Michel Bussi, escrita por Frédéric Duval com desenhos de Didier Cassegrain. Em suas páginas, o cenário da paradisíaca ilha tropical de La Réunion contrasta com uma história com muitos lados obscuros. Liane Bellion desapareceu, mas há vestígios de sangue no seu quarto de hotel. Alguém jura ter visto o marido, Martial, a se comportar de forma suspeita... Após as dúvidas iniciais, a polícia está cada vez mais convencida de que Martial matou a esposa. Em pânico, mas recusando-se a se entregar às autoridades, o homem leva a filha em uma fuga frenética.