Custa caro o novo tijolaço da Panini Comics em sua linha "Omnibus", termo usado para uma compilação de histórias clássicas numa pataca de histórias, envoltas em capa dura, recheadas de textos informativos: no caso, o cachalote gráfico em questão é "Coringa: A Era de Bronze". O preço: R$ 339. Dói no bolso, mas o time estelar de artistas espalhado por suas 832 páginas dá gosto: Neal Adams, Dennis O'Neil, Dick Dillin, Bob Haney, Elliot Maggin, Irv Novick, Jim Aparo, José Luis García-López, Marshall Rogers, Martin Pasko e Steve Englehart.
É um resgate de tramas dos anos 1960 e 70. De quebra, a mesma editora traz para o Brasil uma versão pocket de "A Piada Mortal", cult de Brian Bolland e Alan Moore da década de 1980, no qual até o comissário Gordon cai nas artimanhas do sorridente ferrabrás. O site www.panini.com.br pôs à venda ainda uma versão encadernada de "Quebra-cabeças", com os sete volumes da saga "The Joker Presents: A Puzzlebox" (2021). Seus criadores são Jesus Merino, Joshua Hixson, Keron Grant e Matthew Rosenberg. Eles escrevem, desenham e arte-finalizam um thriller no qual a polícia de Gotham tem um cadáver misterioso, uma caixa mágica e uma cela cheia com os vilões mais perigosos da cidade. Agora, tudo o que eles precisam descobrir é o que aconteceu exatamente. Felizmente, um suspeito está disposto a falar. O Coringa, é óbvio.
Nos EUA, este mês, ele está dando trabalho para a Liga da Justiça na revista mensal do grupo. Aliou-se a nêmese do Superman, o milionário Lex Luthor, e ao Gorila Grood. Na telona, faz pouco, fez das suas em "Delírio a Dois", já na plataforma MAX (ex-HBO), com Lady Gaga.
Tim Burton escavou caminhos sombrios nessa figura, nas telas, ao atribuir a Jack Nicholson a frase "Você já dançou com o Diabo à luz do luar". Ela é ouvida no filme "Batman" (1989). Essa fala é prova de que o vilão lançado em 25 de abril de 1940 por Jerry Robinson, em triangulação com Bob Kane e Bill Finger, comporta digressões funestas em sua encanação nas HQs. A DC Comics, editora que publica as peripécias malévolas do personagem, sacou que o criminoso de sorriso largo caberia bem no selo Black Label, inaugurado em 2018, com "Damned". A proposta dessa linha de banda desenhada é dar uma repaginada nos bandidos e nos mocinhos de maior popularidade da empresa, a fim de adaptá-los para um público adulto. "Inferno Verde", com o Monstro do Pântano, e o suspense "The Riddler: Year One", escrita pelo ator Paul Dano, é parte dessa abordagem mais madura. A seção Vertigo, que a DC manteve nos anos 1990, já ia por esse caminho, mas ficou mais na área do terror e da discussão sociológica, com destaque para "Hellblazer", com o mago Constantine.
A saga dos "Três Jokers", encadernada em Portugal num luxuoso especial da editora Devir, conta com a mirada existencialista do escritor Geoff Johns ("Lanterna Verde") e com a arte (hiper)realista do artista Jason Fabok. Os dois artistas exploram a origem do Coringa com base na bestialidade do pierrô do Mal numa trama que mobiliza Capuz Vermelho e Batgirl além do Homem-Morcego. O jogo das cores nessa investigação é dionisíaco, acentuando a linha gótica inerente ao cruzado de Gotham.
É uma perspectiva dramatúrgica nova para a saga do assassino circense que ganhou a telona com um filme solo em 2019, o "Joker", de Todd Phillips. A produção conquistou o Oscar de Melhor Ator (Joaquin Phoenix) e o de Melhor Trilha Sonora (dado à compositora Hildur Guðnadóttir), além do Leão de Ouro do Festival de Veneza de 2019, atribuído por um júri presidido por Lucrecia Martel. Orçado em US$ 55 milhões, o longa-metragem - hoje na grade da já citada plataforma MAX - faturou US$ 1 bilhão e 78 milhões pelo mundo adentro.
O histórico do Coringa foi analisado nas HQs ainda na saga "O Homem Que Parou De Rir", assinada pelos artistas gráficos Matthew Rosenberg e Carmine Di Giandomenico e centrada numa onda de caos nos EUA, com foco em Gotham City. Ampliou-se ainda a procura pela série de mangás do bandidão, que valeu um Oscar também para Heath Ledger, pouco depois da morte desse ator, que serenou em 2008.




