Por: Affonso Nunes

O Capital Inicial em encontro com a autoralidade

O Capital Inicial mostra que não estacionou no tempo com 'Movimento' após ano marcado por turnê do 'Acústico' | Foto: Divulgação

Capital Inicial retoma o caminho das composições próprias no EP 'Movimento', fechando o longo ciclo da turnê comemorativa dos 25 anos de seu icônico 'Acústico'

Há quatro décadas no centro da cena do rock brasileiro, o Capital Inicial volta a investir em material autoral com o lançamento do EP "Movimento", que desembarcou nas plataformas digitais na última quinta-feira (28). Composto por seis faixas, o trablaho marca uma virada de página após o ciclo comemorativo dos 25 anos do álbum acústico da banda, que resultou em uma turnê com mais de 500 mil espectadores e presença no festival The Town, onde dividiu o Palco Skyline com nomes como Green Day e Bruce Dickinson.

"Movimento" representa uma tentativa de atualização sonora sem abandono das raízes punk do Capital. A banda brasiliense buscou produtores de outras gerações e vertentes para tocar o projeto: Douglas Moda, que trabalhou com Luísa Sonza, e Marcelinho Ferraz, ligado ao Charlie Brown Jr., assinam a produção, enquanto Thiago Castanho e Kiko Zambianchi aparecem como colaboradores nas composições. Zambianchi, é bom lembrar, assina "Primeiros Erros", um dos maiores sucessos do grupo.

Com bilhões de streams acumulados nas plataformas digitais e presença constante nos principais festivais do país, Fê Lemos, Flávio Lemos, Dinho Ouro Preto e Yves Passarel mantêm-se ativos num mercado que mudou radicalmente desde sua estreia, em 1982. A trajetória do Capital inclui dez participações no Rock in Rio, indicações ao Latin Grammy e um repertório que jamais ficou datado. O desafio, portanto, é provar que ainda há espaço para material inédito em meio a um público geralmente interessado no repertório clássico da banda.

O vocalista Dinho Ouro Preto reconhece que a longevidade do Capital está ligada à disposição de arriscar. "Acredito que o Capital chegou tão longe justamente por sempre olhar para o futuro, por sempre procurar contribuições novas, produtores novos, por sempre estar pensando no passo seguinte a ser dado. Foi com isso na cabeça que procuramos o Douglas Moda e o Marcelinho Ferraz. Queríamos um disco que apontasse novas direções, no entanto sem perder nossa essência, nossa identidade. Esse equilíbrio nem sempre é um feito fácil de se alcançar, principalmente para uma banda veterana. Mas acredito que conseguimos. O Capital está ali, mas um pouco diferente", avisa.

O primeiro single, "Você Me Ama de Verdade", chegou no início de novembro com clipe dirigido por Bernardo Perpettuo e apresenta uma abordagem que mescla guitarras elétricas com batidas programadas. Já "Mistério", parceria com Thiago Castanho, aposta em riffs mais pesados e atmosfera densa, revelando um lado mais visceral do grupo. "Liga Pra Mim" retoma a urgência melódica que marcou o rock alternativo dos anos 2000, enquanto "Cores de Maio", feita com Kiko Zambianchi, explora camadas sensíveis e melódicas do pop rock.

A faixa "Sentido do Fim" fecha a sequência de inéditas com uma reflexão sobre despedidas e recomeços, tema que ecoa diretamente o momento vivido pela banda após o intenso ciclo celebrativo. O EP ainda traz um remix de "Você Me Ama de Verdade" produzido por Doom Mix, visando as pistas de dança.

"É revigorante poder se arriscar por caminhos novos e parcerias inéditas. Acho que o Douglas e o Marcelinho trouxeram ao Capital um tempero, um sotaque distinto sem que perdêssemos nossa personalidade. O EP "Movimento" é um disco com um pouco de tudo: guitarras distorcidas, violões, sintetizadores e até cordas. O que une essa variedade sonora é uma produção que nos conduziu rumo a um EP cujo título, 'Movimento', não poderia traduzir melhor o que queríamos dizer aos nossos fãs. Nós nunca estamos parados. Queremos nos arriscar. Nós acreditamos que seja possível experimentar e lançar sonoridades inesperadas enquanto nos divertimos - tanto nós, quanto nossos fãs", defende Dinho.

O resultado deste "Movimento" será testado não apenas nas plataformas digitais, mas principalmente nos shows, onde o público dirá aos quatro músicos se as novas composições serão capazes de conquistar espeço e, quem sabe, se colocar na mesma prateleira dos hits consagrados da banda.