Por: Affonso Nunes

Uma lona aquilombada

Josiel Konrad | Foto: Magrão/Divulgação

Festival gratuito no Circo Voador reúne samba, jazz, ballroom e debates para celebrar beleza negra como força política e cultural no Dia da Consciência Negra

O Circo Voador se transforma em quilombo urbano nesta quinta-feira (20) para receber a primeira edição do Negro é Lindo Festival, que propõe uma maratona de 10 horas ininterruptas celebrando a cultura negra brasileira em múltiplas linguagens artísticas. O evento busca articular pensamento crítico, expressão artística e acolhimento comunitário num mesmo espaço de convivência.

A programação se estende das 15h à 1h da madrugada e transita entre capoeira angola, rodas de conversa sobre educação afro-brasileira, acolhimento psicológico facilitado por profissionais negras, performances de ballroom, shows de samba e jazz, além de festa que promete ocupar a pista até o encerramento. "Dizer 'Negro é Lindo' não é um gesto estético vazio. É um contragolpe à cultura racista velada que insiste em apagar nossa beleza, nossa inteligência e nossa centralidade na história do Brasil. O festival parte da ideia de que celebrar e pensar não são dimensões opostas, mas formas complementares de afirmar a vida negra no Brasil", afirma Érika Lopes, produtora cultural, psicóloga e diretora da Amefricana Produções, idealizadora do evento.

Macaque in the trees
Ster | Foto: Maiko Lima/Divulgação

A abertura acontece com a Capoeira Angola Aluandê, que firma o terreiro simbólico do evento antes da aula pública "A beleza é política", conduzida por Débora Simões e Hildeberto Vieira Martins. A atividade se propõe a discutir como a experiência negra opera na construção de futuros democráticos e na desconstrução do mito da democracia racial brasileira. Na sequência, a roda de conversa "Valores Civilizatórios Afro-Brasileiros" traz Gisele Rose e André Lemos para refletir sobre ancestralidade e práticas educativas inspiradas no legado da educadora Azoilda Loretto da Trindade.

Macaque in the trees
Ana Paula Cruz | Foto: Divulgação

Entre as propostas que distinguem o festival está a Roda de Acolhimento com psicólogas negras, que oferece um espaço de escuta e partilha em formato comunitário e não clínico. A iniciativa reforça a dimensão do cuidado como prática política, criando um ambiente protegido para elaboração afetiva do que emerge nos debates e vivências do dia. Paralelamente às atividades programadas, uma feira de economia preta circula pelo espaço durante toda a tarde e início da noite, reunindo expositores de gastronomia, moda, artesanato e design autoral. A mostra de artes visuais com curadoria da Galeria Ocupá completa a ocupação do Circo Voador, destacando artistas negros e afro-diaspóricos que investigam memória, afeto e território.

Macaque in the trees
Ballroom | Foto: Areninha da Maré/Divulgação

A programação musical tem início a partir das 18h, quando o DJ Ademarley abre a pista com repertório afrodiaspórico. Uma hora depois, Marcelinho Moreira e o Canto do Batuqueiro trazem a tradição da roda de samba carioca. Às 21h, o trombonista Josiel Konrad, referência da cena instrumental carioca, apresenta seu jazz fenkeado com as participações especiais de Ana Paula Cruz e Ster. A performance do Ballroom Casa de Laffond, marcada para 22h30, promete levar à pista a estética voguing e a cultura ballroom que se consolidou como linguagem artística e política nas comunidades LGBTQIA negras. O encerramento fica por conta da Festa Mariwô, que comanda a celebração final entre 23h40 e 1h. Toda a condução do evento será realizada por Carol Dallfarra, slamer e poetisa que vem se destacando na cena artística carioca.

SERVIÇO

NEGRO É LINDO FESTIVAL

Circo Voador (Rua dos Arcos, s/nº, Lapa)

20/11, das 15h a 1h

Ingressos gratuitos com retirada antecipada em www.sympla.com.br/evento/negro-e-lindo-festival/3147599)