A ideia para o álbum partiu de Cris Delanno, mas o repertório foi construído em conjunto, em encontros marcados pelo afeto e pela cumplicidade artística que une os dois músicos há quase quatro décadas. "São músicas que a gente adora. Com a cara da gente. Saudade do que a gente fez, mas também saudade do futuro", conta Menescal.
Enquanto canções como "Garota de Ipanema", "Desafinado" e "Chega de Saudade" consolidaram-se como hinos do gênero, outras composições igualmente sofisticadas permaneceram em segundo plano, conhecidas principalmente por especialistas e aficionados. É justamente esse repertório que Menescal e Cris revisitam, com arranjos que respeitam o rigor e a elegância característicos da Bossa Nova, mas que estão longe de parecerem datados. Além de Cris e Menescal, participam do trabalho os músicos Adriano Baptista Souza (piano), Adriano Giffoni (baixo) e João Cortez (bateria).
Entre essas pérolas esquecidas estão "Esse Seu Olhar/Promessas", de Tom Jobim e Newton Mendonça, "Deixa", de Baden Powell e Vinicius de Moraes, "O Negócio É Amar", de Carlos Lyra e Dolores Duran, "Chora Tua Tristeza", de Oscar Castro-Neves, e "Mentiras", de João Donato. "São músicas que, apesar de menos conhecidas, trazem uma história conosco. A gente trabalhou muito os arranjos pra mudar a cara delas", diz Menescal, uma das figuras mais influentes da MPB.
Violonista, compositor, arranjador e produtor, Menescal foi um dos arquitetos do sonoridade da Bossa Nova ao lado de Tom Jobim, João Gilberto e Carlos Lyra. Seu violão, de batidas suaves e harmonias sofisticadas - assumidamente inspiradas no guitarrista estadunidense Barney Kessel -, ajudou a definir a estética intimista do movimento. Entre 1963 e 1969, Menescal lançou três ábuns seminais - A Bossa Nova" (1963), "The Boy from Ipanema Beach" (1965) e o "O Conjunto De Roberto Menescal" (1969) - cujo refinamento se tornaria marca registrada da Bossa Nova.
A partir de 1964, Menescal tornou-se um dos principais produtores musicais do país e um dos grandes reveladores de talentos femininos da música brasileira, tendo lançado e produzido carreiras de cantoras que se tornariam fundamentais no cenário nacional. Foi ele quem apresentou ao público nomes como Wanda Sá, Sylvia Telles, Nara Leão e Leila Pinheiro, entre outras vozes que ajudaram a consolidar a Bossa Nova e seus desdobramentos. Habituado a fazer discos em dobradinha com cantoras, Menescal desenvolveu uma sensibilidade especial para trabalhar com vozes femininas. No fim dos anos 1980, fundou seu próprio selo, a Albatroz Discos, onde desde então produz álbuns para o mercado brasileiro e internacional, sobretudo o Japão onde é idolatrado.
"Eu aos 18 anos, era um cara começando a tocar violão, empolgado com tudo que aparecia, com a mudança do samba-canção pra Bossa Nova. Hoje, sei que tenho essa missão de continuar nos palcos da vida e de mostrar cada vez mais a nossa Bossa para o mundo", reflete.
Cris Delanno é uma das intérpretes que melhor representa essa tradição de cantoras moldadas pela sensibilidade de Menescal. Com 35 anos de carreira, ela construiu uma trajetória marcada pela fidelidade ao repertório de qualidade e pela busca de uma interpretação que privilegia a sutileza e a emoção contida, características que a aproximam da tradição bossanovista. A parceria entre os dois se estende por quase quatro décadas de amizade e colaboração artística. "Ele produziu e arranjou vários álbuns meus. Neste show, faremos as músicas do álbum e incluiremos algumas das canções que foram marcantes na nossa história como, por exemplo, Saudade fez um samba, Corazón partío e Samba de uma nota só", conta Cris.
Este é o segundo álbum que lançam juntos, consolidando uma parceria que atravessa décadas e se alimenta da fina sintonia entre o canto de Cris e o violão de Menescal, cúmplices na devoção à Bossa Nova. A cantora divide com Menescal a produção musical do disco, numa colaboração que reflete a maturidade e a igualdade artística entre ambos. "Eu o convidei porque o queria mais perto de mim nesse trabalho que é a nossa cara", aponta Cris.
SERVIÇO
O LADO B DA BOSSA - ROBERRTO MENESCAL E CRIS DELANNO
Blue Note Rio (Av. Atlântica, 1910 – Copacabana)
25/10, às 20h e 22h30
Ingressos:
