Por: Affonso Nunes

E a sanfona cariocou

Kiko Horta leva o som da sanfona a pasagens sonoras tipicamente cariocas como o samba e o choro num álbum requintado | Foto: Celso Filho/Divulgação

Depois de décadas atuando nos bastidores da MPB, Kiko Horta lança álbum que mapeia a trajetória do instrumento

Aos 12 anos de atividade como professor na Casa do Choro e na Escola Portátil de Música, com passagens por estúdios ao lado de nomes como Martinho da Vila, Chico Buarque, Gilberto Gil e Teresa Cristina, o músico José Mauricio Horta, ou melhor Kiko Horta, finalmente apresenta seu primeiro álbum solo. "Sanfona Carioca", lançado pelo Selo Mestre Sala, sintetiza as múltiplas experiências que moldaram a trajetória do músico.

Popular em regiões como o Nordeste e Sul, a sanfona tem seu lugar na música produzida no Rio desde os tempos áureos da Rádio Nacional até as gafieiras e boates de Copacabana dos anos 1970 em diante.

Nessa jornada sonora, Kiko reprocessa influências de mestres do instrumento como Luiz Gonzaga, Orlando Silveira, Dominguinhos, Sivuca, Chiquinho do Acordeom, Hermeto Pascoal e João Donato, temperando tudo com seu sotaque carioca e a naturalidade de seus improvisos.

"A formação musical do Kiko é muito variada, e isso aparece no disco", explica Luís Filipe de Lima, violonista de sete cordas que assina a coprodução do álbum ao lado do próprio Kiko. "Tem samba, bossa-nova, jongo, gafieira, choro, forró, jazz, tudo banhado nas águas cariocas." A escolha do repertório reflete essa diversidade. Além das autorais "Recomeço" e "Forró Transcendental", o disco traz composições de Altamiro Carrilho ("Deixa o breque pra mim"), K-Ximbinho ("Catita"), Astor Silva ("Chorinho de gafieira"), Zé Menezes ("Comigo é assim"), Dominguinhos ("Chorinho pro Miudinho"), Sivuca ("Dino pintando o Sete cordas" e "Um tom para Jobim", esta em parceria com Oswaldinho), e Arlindo Cruz com Mauro Diniz ("Meu lugar").

A formação que acompanha Kiko Horta no trabalho faz a carioquice do som brotar ainda mais com Marcus Suzano (vituose do pandeiro), Luiz Barcelos (bandolim), Ivan Machado (baixo) e o já citado Lís Felipe.

Oriundo de família profundamente envolvida com a cultura brasileira, Kiko subia o Morro de Santa Marta para ouvir e conviver com sanfoneiros nordestinos, frequentava rodas de jongo no Morro da Serrinha, em Madureira, e participava de rodas de samba e choro pela cidade. Essas experiências moldaram um músico plural, que transita com desenvoltura entre a música popular e a academia – concluiu mestrado em música na UniRio e prepara para 2026 o lançamento da cartilha "ABC das Levadas na Sanfona", dedicada aos padrões de acompanhamento no forró, choro e samba.