O compositor João Marcondes nos traz agora o álbum "Afro-Brazilian Suite Ancestrality for Harp, Cello and Clarinet" (Azul Music). Um trabalho de referência a demonstrar e aproximar da música erudita a pluralidade de nossas raízes ancestrais. Álbum que é a sequência de um projeto simplesmente admirável.
São duas formações instrumentais: uma, com harpa (Sole Yaya), violoncelo (Marialbi Trisolio) e clarinete (Ovanir Buosi), interpretando cinco das nove peças do repertório. Outra, com harpa (Sole Yaya), violoncelo (Marialbi Trisolio) e violino (Leandro Dias), tocam as faixas restantes.
Como se nota, houve tão-somente uma única troca de instrumentos entre as duas formações instrumentais. Todavia, o engenho de João Marcondes soou de tal forma que a mudança timbrística do clarinete para o violino, creiam, proporciona uma diferença formidável da sonoridade de uma formação para a outra.
Em "Waltz: Golden Ancestry Pt. 1 for Harp, Cello and Clarinet", quando o clarinete se ajunta ao violoncelo, resulta numa emissão de frases com sons graves, intensos e de profunda formosura. Logo o dedilhar da harpa se encarrega de acrescentar ainda mais poder de encantamento à melodia e ao ritmo.
Em "Short Time for Harp, Cello and Violin", da segunda formação, destaco o violino que toca o tema em pizzicato e segue se valendo de acordes em compassos intercalados. Logo a harpa abre a cama para que o violino se valha do arco e o violoncelo se ajunte a eles para construírem um novo som instrumental. Alguns acordes à frente, o violino volta ao pizzicato. Logo também a harpa retoma sua leveza, enquanto o violoncelo volta à cena com seu som robusto.
Os sons deste trabalho mostram que vale muito ouvir o álbum arrebatador. Como já disse e repito: o erudito não é antagônico ao popular. São complementares em seus requintes; contrastantes em seus acordes; plurais em suas harmonias. Ouça aqui.
*Vocalista do MPB4 e escritor
