Por: Affonso Nunes

O eterno violão de Luiz Bonfá

Victor Biblione assume influência direta de Luiz Bonfá | Foto: Marcelo Castello Branco/Divulgação

Victor Biglione presta uma homenagem a Luiz Bonfá com o lançamento de "Nos Tempos do Jacarandá", álbum instrumental que chega às plataformas digitais nsta sexta-feira (17). O projeto representa o primeiro tributo discográfico feito por um guitarrista ao lendário violonista e compositor brasileiro, utilizando a mesma craviola de 12 cordas que Bonfá consagrou mundialmente no histórico álbum "Jacarandá", de 1973. Foi através dele que Bonfá revolucionou a sonoridade da música brasileira e influenciou gerações de músicos ao redor do mundo, incluindo Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin.

O álbum reúne nove faixas que atravessam fronteiras estilísticas, seguindo a filosofia eclética que caracterizava o trabalho de Bonfá. Entre as interpretações estão "Paula e Bebeto", de Milton Nascimento; "Lucy in the Sky with Diamonds", de Lennon e McCartney; e "Pavane", de Gabriel Fauré.

Acompanhado apenas pelo percussionista Sérgio Benchimol, Biglione dialoga com o refinamento e sofisticação harmônica que tornaram Bonfá uma referência mundial.

Biglione conta que a ideia do tributo remonta a 2001, quando Bonfá faleceu e Biglione percebeu uma lacuna no cenário musical brasileiro. "Pensei nesse tributo na ocasião do falecimento do Bonfá. Os pouquíssimos tributos dedicados a ele eram todos cantados, e eu achava necessário um trabalho de instrumentista, com violões de seis e de doze cordas", explica o guitarrista, que conheceu Bonfá em 1978 por intermédio do trompetista Márcio Montarroyos.

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Luiz Bonfá | Foto: Reprodução Spotify

"A importância do Bonfá não é nem para mim, né? É para a música, para a cultura brasileira, para a história do Brasil e para a visibilidade do país no mundo. Principalmente por causa do filme 'Black Orpheus', lançando ao mundo 'Manhã de Carnaval', uma composição fundamental para a nossa história e para a nossa visibilidade internacional", observa o guitarrista, referindo-se à trilha sonora de "Orfeu Negro" (1959), que conquistou a Palma de Ouro em Cannes.

Carlos Mills, produtor do álbum, destaca a originalidade da proposta: "A proposta do projeto me cativou: fazer uma homenagem à estética do Luiz Bonfá, usando o instrumento que ele consagrou, no caso, o violão de 12 cordas. Assim, músicas novas foram interpretadas com 'a pegada do Luiz Bonfá', mesmo que ele não as tivesse gravado em sua discografia. Achei essa ideia do Victor muito ousada e criativa!"

"São seis horas da manhã e eu aqui ouvindo sons que brotam de uma terra bem fecundada, nos dando tronco, galhos e folhas que contam uma história, que são a base do século XX, de onde grande parte de nós fomos forjados. De Fauré a Bituca, passando por Bonfá, Coltrane, Mingus, Donato, Gershwin e Beatles, formando um mosaico de nossas vidas sonoras impregnadas em nossa alma, de nossos instrumentos", comentou João Bosco após ouvir o álbum.

O lançamento oficial do tributo a Luiz Bonfá será no próximo dia 31 de outubro, no Manouche, no Jardim Botânico.