Por: Affonso Nunes

Pat Metheny, o explorador de sons

Pat Metheny Mescla temas consgrados de seu repertório com faixas de seus álbuns mais recentes | Foto: Divulgação

Um dos guitarristas mais celebrados do jazz mundial, Pat Metheny desembarca no Rio neste sábado (30) para apresentação única no Vivo Rio, às 20h, como parte de sua turnê sul-americana "Dream Box/MoonDial" na qual o instrumentista estadunidense tem entregado um espetáculo que percorre mais de quatro décadas de carreira, mesclando composições consagradas com material de seus dois álbuns mais recentes.

A apresentação carioca integra uma série de shows que o músico realizará pela América do Sul entre agosto e setembro, passando também por Porto Alegre, São Paulo, Santiago, Montevidéu, Buenos Aires, Lima, Bogotá, Guadalajara e Cidade do México. No formato solo, Metheny utilizará mais de uma dúzia de guitarras diferentes, explorando as sonoridades que o tornaram uma referência mundial no jazz contemporâneo.

 

Uma carreira de investigação musical constante

Pat Metheny | Foto: Divulgação

Aos 70 anos, Pat Metheny continua surpreendendo o mundo da música com sua capacidade inesgotável de reinvenção. O guitarrista, que construiu uma das carreiras mais sólidas e versáteis do jazz contemporâneo, apresenta atualmente uma turnê solo que demonstra como a maturidade artística pode ser sinônimo de experimentação e descoberta. O repertório dos shows transita entre composições consagradas de sua extensa discografia e faixas dos álbuns mais recentes, "Dream Box" (2023) e "MoonDial" (2024), trabalhos que evidenciam a constante evolução de um músico que jamais se acomodou em fórmulas prontas.

A decisão de se dedicar cada vez mais a apresentações solo representa um momento especial na trajetória do múisco nascido no Missouri em 1954. Este formato permite a Metheny uma liberdade interpretativa única e estabelece uma proximidade íntima com o público, criando um ambiente onde pode explorar as múltiplas facetas de seu instrumento. Durante os shows, o músico transita com naturalidade entre melodias contemplativas e passagens de virtuosismo técnico.

"Dream Box" nasceu de um processo criativo peculiar. Em 2022, durante suas turnês, Metheny decidiu revisar uma pasta em seu computador contendo cerca de 60 composições desenvolvidas ao longo dos anos. Desta seleção, escolheu nove temas para compor o álbum, criando uma obra que funciona como uma compilação de ideias musicais amadurecidas ao longo do tempo.

O título carrega múltiplos significados: "box" é uma gíria do jazz para guitarra de corpo oco, e "Dream Box" documenta diversos sons de guitarra, mas é a palavra "sonho" que oferece a chave interpretativa do trabalho. Como o próprio Metheny explicou na época do lançamento: "Os sonhos, no seu sentido mais amplo, compõem a vibração deste conjunto. A música existe para mim num estado indescritível, muitas vezes no seu melhor quando descoberta independentemente de qualquer intenção específica."

Já "MoonDial" representa uma abordagem completamente diferente. Trata-se de um disco puramente solo, sem sobreposições, gravado em um violão barítono de cordas de náilon feito sob medida pela renomada luthier Linda Manzer. O que diferencia este trabalho de tudo que Metheny produziu anteriormente é que o álbum foi inteiramente concebido a partir de um sistema de afinação especial desenvolvido pelo próprio guitarrista. As cordas de náilon convencionais não conseguiam alcançar essas afinações "sem quebrar ou soar como um banjo", segundo o músico. A descoberta, no outono de 2023, de um novo tipo de corda fabricada na Argentina que estava à altura da tarefa abriu um mundo de possibilidades sonoras que se materializa neste trabalho.

A relação de Metheny com o Brasil, especialmente através das colaborações com Milton Nascimento, deixou marcas profundas em seu processo criativo. Esta conexão passou a se refletir em seu trabalho autoral, que incorporou elementos da MPB de forma orgânica, demonstrando como a música brasileira encontrou eco na sensibilidade do guitarrista estadunidense.

A parceria com Milton representa um dos capítulos mais frutíferos de uma carreira marcada por colaborações ecléticas, que incluem desde compositores eruditos como Steve Reich até ícones do rock como David Bowie, passando por mestres do jazz como Ornette Coleman e Herbie Hancock.

O reconhecimento da obra de Metheny se reflete em números impressionantes: 20 prêmios Grammy conquistados em dez categorias diferentes, incluindo sete consecutivos pelos álbuns do Pat Metheny Group, formação que liderou por décadas. Sua discografia inclui ainda três discos de ouro, consolidando não apenas o prestígio crítico, mas também o sucesso comercial. Tudo sem abrir mão de sua integridade artística.

Sobre a turnê atual, Metheny reflete: "A turnê do outono passado não só representou o som e a vibração do lançamento de 'Dream Box', mas realmente foi uma oportunidade para eu analisar todas as outras formas como lancei discos e fiz apresentações ocasionais em um ambiente solo ao longo dos anos. Cada uma dessas gravações solo, e Dream Box também, são diferentes entre si. A ideia para mim é tentar continuar encontrando ângulos e maneiras diferentes de pensar sobre a música, enquanto espero manter uma estética fundamental em tudo isso. Em outras palavras, continuar a pesquisa."

Pat Metheny prova que a longevidade artística é algo que não se mede apenas em anos de carreira, mas na capacidade de continuar surpreendendo a si mesmo e ao público.

SERVIÇO

PAT METHENY

Vivo Rio (Av. Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo)

30/8, às 20h

Ingressos: a partir de R$ 220 e R$ 110 (meia)