Por: Affonso Nunes

A macumba tecno que ainda ressoa

Rita Benneditto no show 'Tecnomacumba, apresentado pela artista sistematicamente desde 2003 | Foto: Ariel Cavotti/Divulgação

A cantora maranhense Rita Benneditto sobe ao palco da Arena do Sesc Copacabana nesta terça-feira (12) para apresentar "Tecnomacumba", projeto que há mais de duas décadas redefiniu os limites entre música popular brasileira, religiosidade afro-brasileira e sonoridades contemporâneas. O espetáculo, que estreou em 2003, consolidou-se como um dos trabalhos mais singulares da música brasileira ao propor um diálogo musical entre pontos de terreiro, clássicos da MPB e batidas eletrônicas. Por mais que desenvolva outros projetos, Rita sempre volta ao "Tecnomacumba".

"Olha, o 'Tecnomacumba' é mais do que um espetáculo pra mim — é um chamado. Desde que ele nasceu, lá em 2003, eu entendi que não era apenas sobre subir ao palco e cantar canções ; era sobre afirmar e celebrar a identidade e ancestralidade do povo brasileiro a partir de sua cultura, e abrir caminhos espirituais e culturais para quem se faz presente nas plateias. 'Tecnomacumba' já é uma “entidade”, tem força própria, um pulso que não se esgota, porque fala de raízes muito profundas e de temas que continuam urgentes: resistência, fé, pertencimento", destaca.

Mesmo quando mergulha em outros projetos, Rita diz sentir que 'Tecnomacumba' a chama de volta, muito também por força e desejo do público. "É como um ponto de luz que sempre me guia. Passaram-se mais de vinte anos e, ainda hoje, cada apresentação me provoca arrepios — porque nunca é igual. O público, a energia, o momento histórico… tudo transforma o 'Tecnomacumba' numa experiência viva, que se renova", garante.

A artista acrescenta que se sente tocada profundamente em cada porque o espetáculo continua lhe ensinando. "E enquanto houver quem precise se reconhecer, se fortalecer e se encantar através dessa música e dessa espiritualidade, eu vou seguir levando esse projeto pelo Brasil e pelo mundo. É um compromisso que ultrapassa o palco — é missão de vida", resume.

Com geralmente acontece nas sessões de "Tecnomacumba", a apresentação desta terça terá a participação do artista plástico Fernando Mendonça, que realizará uma pintura ao vivo durante o show, retratando divindades do panteão afro-brasileiro homenageadas no repertório. A performance visual integra-se à proposta musical, dando novas vivências ao público. Ao lado de Rita, a banda Cavaleiros de Aruanda, formada por Fred Ferreira (direção musical e guitarras), Humphry Scott (contrabaixo) e Ronaldo Silva (bateria e programação eletrônica) constrói a base sonora que sustenta essa viagem à ancestralidade.

O repertório da noite incluirá faixas emblemáticas como "Domingo 23", "Cavaleiro de Aruanda", "É D'Oxum" e "Mamãe Oxum", além de "7Marias", composição de Rita lançada em 2018 cujo videoclipe ultrapassou cinco 5 milhões de visualizações. São canções que revelam a habilidade de Rita em transitar entre diferentes universos sonoros com coerência estética.

Ao longo desses 22 anos, "Tecnomacumba" caminhou além da música, proporcionando produções audiovisuais, exposições e até mesmo um bloco de carnaval. Em 2024, a exposição "Cantos, Cores e Telas - Tecnomacumba de Rita Benneditto pelo Traço de Fernando Mendonça" ocupou museus e centro culturais.

Rita Benneditto, que iniciou sua carreira aos 15 anos em São Luís, construiu uma trajetória marcada pela experimentação e pelo compromisso com a cultura brasileira. Indicada ao Grammy Awards em 2001 na categoria de melhor álbum de pop rock pelo trabalho "Pérolas aos Povos", a cantora sempre manteve um pé na tradição e outro na inovação. Com nove álbuns lançados e diversos singles, sua discografia revela um percurso artístico coerente, no qual "Tecnomacumba" representa tanto um ponto de chegada quanto de partida para novas explorações sonoras.

SERVIÇO

RITA BENNEDITTO - TECNOMACUMBA

Arena do Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160) | 12/8, às 19h

Ingressos: R$ 15, R$ 7,50 (meia) e R$ 5 (associado Sesc)