Por: Affonso Nunes

Xangai, o menestrel sertanejo

Xangai consolidou sua carreira ao interpretar o rico cancioneiro de Elomar | Foto: Divulgação

Eugênio Avelino, conhecido artisticamente como Xangai, retorna ao Teatro Rival Petrobras nesta sexta-feira (8) com o espetáculo "Entre o mar e o sertão". Aos 77 anos, o cantor e compositor baiano mantém intacta a potência vocal que o consagrou como um dos principais divulgadores da obra do trovador Elomar Figueira de Mello, um dos mais autênticos compositores nordestinos.

Nascido em Itapebi, às margens do Rio Jequitinhonha, no extremo sul da Bahia, Xangai cresceu imerso na tradição musical nordestina. Filho e neto de sanfoneiros e violeiros, desenvolveu sua conexão com os cantadores e vaqueiros de sua região. Seu nome artístico deriva curiosamente da sorveteria de seu pai em Nanuque, norte de Minas Gerais, para onde a família se mudou quando ele tinha 18 anos.

O encontro com Elomar aos nove anos de idade, em Vitória da Conquista, foi determinante para sua formação artística. A amizade com o compositor, dez anos mais velho, resultou em parcerias antológicas que se tornaram marcos da música brasileira. Em 1986, Xangai lançou "Xangai canta Cantigas, Incelenças, Puluxias e Tiranas de Elomar", álbum que consolidou sua reputação como intérprete privilegiado da complexa obra elomariana.

Com mais de 20 álbuns gravados desde seu primeiro disco "Acontecivento" (1976), Xangai participou dos históricos projetos "Cantoria 1" e "Cantoria 2", ao lado de Elomar, Geraldo Azevedo e Vital Farias, espetáculos que percorreram o Brasil nos anos 1980. Sua discografia inclui ainda colaborações memoráveis como o álbum "Aguaterra" com Renato Teixeira e o projeto "Nóis é jeca, mas é joia" com Juraíldes da Cruz.

O repertório de "Entre o mar e o sertão" é um recorte dessa incrível trajetória. Além do cancioneiro do mestre Elomar, o show inclui canções de Waldick Soriano e Vital Farias.

Em 2016, Xangai foi reconhecido com o Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Cantor Regional, coroando uma carreira dedicada à preservação e divulgação da música nordestina de raiz. O músico apresenta o programa "Brasileirança" na Rádio Educadora da Bahia e chegou a estrear como ator na novela "Velho Chico", na qual vivia o repentista Avelino, justamente o seu sobrenome.