Por: Affonso Nunes

As minas do jazz (e tudo mais)

Jazz das Minas | Foto: Divulgação

A pianista, cantora e compositora Ifátókí Maíra Freitas comanda um dos projetos mais singulares da nova cena musical brasileira. À frente da Jazz das Minas, banda inteiramente feminina que ela define como "pop brasileira jazzística de terreiro", a artista apresenta no Manouche, neste sábado (9), o show "Ayê Òrun", baseado em seu terceiro disco de carreira.

Após renascimento espiritual no culto a Ifá, a filha de Martinho da Vila adotou também o nome Ifátókí. "É sobre ancestralidade, cura, renascimento e o olhar feminino para a vida", explica a musicista sobre o repertório, que aborda temas como parto, maternidade e maturidade feminina através de arranjos sofisticados e cheios de swing.

A proposta da Jazz das Minas vai além dos limites estilísticos convencionais ao criar o que chamam de "jazz de terreiro". O grupo reinterpreta músicas de axé tradicionalmente cantadas em terreiros de umbanda e candomblé, além de composições autorais e sucessos de grandes nomes da música preta brasileira e internacional como Nina Simone, Elza Soares e Ivone Lara.

A formação atual reúne nove instrumentistas de diferentes idades, classes sociais e regiões, todas responsáveis não apenas pela execução musical, mas também pela direção musical, técnica de som, luz, roadie e produção. "É uma troca que só é possível entre mulheres", destaca Maíra sobre a cumplicidade que marca as apresentações do grupo.

Desde sua estreia em Luanda, em 2019, a banda conquistou reconhecimento internacional, chegando a integrar o prestigioso Montreux Jazz Festival, na Suíça. No Brasil, já se apresentou em diversas capitais.

A trajetória de Maíra combina formação clássica e raízes populares. Iniciou os estudos de piano aos sete anos, chegou a tocar com orquestra sinfônica, mas descobriu-se cantora em 2011, quando lançou seu primeiro disco pelo selo Biscoito Fino. A sonoridade que vem construindo desde então recebe vários tipos de influências, mesclando técnica jazzística com a cultura do samba. Mas, no fundo, ela sabe que está fazendo música preta.

SERVIÇO

JAZZ DAS MINAS - AYÊ ÒRUN

Manouche (Rua Jardim Botânico, 983, subsolo da Casa Camolese)

9/8, às 21h

Ingressos: R$ 120 e R$ 60 (meia solidária com doação de 1kg de alimento ou livro para o Retiro dos Artistas)