Em 2005, o jongo foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Para comemorar os 20 anos desse título e avaliar os resultados do plano de salvaguarda do gênero musical coreográfico afro-brasileiro, considerado um dos pais do samba carioca, lideranças de comunidades jongueiras criaram um calendário de festas, eventos e projetos comemorativos.
Nesta sexta-feira (25), o Jongo da Serrinha apresenta na Arena Fernando Torres, em Madureira, o espetáculo "Madureira, do jongo ao Samba", com a participação da Velha Guarda da Império Serrano. O grupo é comandado por três gerações de mulheres negras que preservam e renovam tradições centenárias da cultura afro-brasileira carioca.
O espetáculo propõe um diálogo musical entre o jongo e o samba, dois gêneros que encontraram no solo de Madureira um território fértil para seu desenvolvimento. O repertório combina pontos tradicionais de jongo com sambas consagrados do Império Serrano.
O coletivo musical, que tem como matriarca Deli Monteiro, neta da lendária Vovó Maria Joana, conta ainda com a participação fundamental de Lazir Sinval, sobrinha de Tia Maria, e Cida Santana. Essas três vozes femininas representam não apenas a continuidade de um legado ancestral, mas também a resistência e a reinvenção de práticas culturais que encontraram no jongo sua expressão mais autêntica.
"No jongo, há muita representatividade feminina. As mulheres negras do Jongo da Serrinha honram sua ancestralidade e transmitem os saberes para as próximas gerações. Desde o tempo de minha avó Maria Joana, somos desbravadoras e tornamos esse grupo um espaço participativo, de fé e muita força também", explica Deli Monteiro, evidenciando como o protagonismo feminino negro se manifesta não apenas na performance artística, mas na própria estrutura organizacional e pedagógica do grupo.
Mas até chegar na Serrinha, o jongo tem muita estrada. A manifestação que combina dança, música e práticas espirituais de origem africana - especificamente dos povos bantos do Congo e de Angola - chegou ao Brasil através dos africanos escravizados e se consolidou principalmente nas regiões cafeeiras do Sudeste brasileiro. Historicamente, o jongo funcionava como espaço de sociabilidade e resistência cultural para as comunidades escravizadas nas fazendas de café e cana-de-açúcar. Na parte da noite, quando eram proibidos de conversar entre si, os escravizados utilizavam o jongo para comunicar acontecimentos do dia, planejar ações futuras e manter vivas suas tradições.
E é justamente na região do Vale do Café, no Sul Fluminense, que o calendário jongueiro segue. Neste sábado (26) será realizado o 4º Encontro de Jongos do Vale do Café, no Parque das Ruínas de Pinheiral. O local é gerido hoje pelas mestras da comunidade centenária do Jongo de Pinheiral, lideradas pela lendária Mestra Fatinha do Jongo. Durante o evento, cerca de 400 lideranças de jongo e os seus mestres vindos de mais de 18 comunidades e quilombos tradicionais dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo têm encontro marcado com o público. E 15 dias depois, o jongo vai se espalhar em evento na Praça Tiradentes rodas de jongo, shows de samba, oficinas com mestres, um seminário no Teatro Carlos Gomes e uma exposição fotográfica na praça.
SERVIÇO
TRADIÇÃO DO JONGO
MADUREIRA: DO JONGO AO SAMBA
Arena Fernando Torres (Rua Bernardino de Andrade, 200 - Madureira): 25/7, às 19h - Grátis
4º ENCONTRO DE JONGOS DO VALE DO CAFÉ
Parque das Ruínas do Pinheiral (Rua Francisco Ribeiro de Abreu, 102, Pinheiral): 26/7, a partir das 9h - Grátis