Por: Affonso Nunes

Cassiana em dose dupla

Cassiana, filha de Jovelina Pérola Negra | Foto: Divulgação

Vinte anos depois de pisar no palco pela primeira vez, quase por acaso, Cassiana consolida sua trajetória artística com um projeto que homenageia tanto sua carreira quanto a memória de sua mãe, a inesquecível Jovelina Pérola Negra. A cantora promove duas apresentações gratuitas na cidade para a gravação do audiovisual "Cassiana 20 Anos".

Os shows serão realizados em locais carregados de forte simbolismo para o samba carioca. Nesta segunda (21), data em que Jovelina completaria 81 anos, Cassiana gravou a primeira parte do projeto no Mirante da Igreja da Penha em apresentação gratuita. Oito dias depois, no dia 29, a gravação se transfere para a quadra do Império Serrano, escola onde sua mãe desfilava na ala das baianas, com início às 20h, em novas apresentação com entrada franca.

Na Penha, Cassiana revisitou sucessos de Jovelina como "Feirinha da Pavuna", "Menina Você Bebeu", "Luz do Repente" e "Sorriso Aberto". Já na quadra da escola de Madureira, o roteiro abraça clássicos do samba criados por imperianos ilustres como "Tendência" (Dona Ivone Lara e Jorge Aragão), "Será Que é Amor" (Arlindo Cruz, Babi e Júnior Dom) e "Mordomia" (Ari do Cavaco e Gracinha), canção imortalizada por Almir Guineto.

O projeto tem produção de Marcos Salles, veterano do samba que trabalhou em cinco dos oito discos de Jovelina e a dirigiu no teatro. Salles acompanha a trajetória de Cassiana desde 2005, quando a lançou no DVD "Raça Brasileira 20 Anos". "Cassiana é uma herança da mãe, minha amiga Jovelina. Gosto muito da energia que ela leva pro palco e faz todo o povo cantar logo na primeira música. Cassiana tira a sandália, fica descalça e embala o partido alto na palma de mão, como gosta de pedir ao público. Com ela acontece como acontecia com a mãe: deixa o palco fervendo", ressalta o produtor.

A direção musical e os arranjos ficam por conta de Márcio Ricardo, completando uma equipe que busca equilibrar tradição e contemporaneidade. Para Cassiana, essa conexão com o público representa a essência de sua arte. "Tudo começou no Espírito Santo, num tributo à minha mãe. Acabei subindo no palco e cantando, mas não imaginava que ali era o início da minha carreira. Passei a frequentar as rodas do Cacique de Ramos, e, canta daqui, canta dali, fui botando a minha cara, o que, pra mim, foi extremamente necessário, porque quem faz o artista é a rua", relembra a cantora.

Esse ensinamento se revela em sua performance que preza pelo contato e interação com o público. "Tem que ir pra rua, tem que pegar essa atmosfera da rua, rodeada pelo público, todo mundo marcando o ritmo na palma da mão. A palma da mão é imprescindível. Se faltar a palma da mão, tudo se encerra. Minha energia se esvai, tudo acaba, pois trata-se de uma troca", explica Cassiana.

Contemplado pelo edital Fluxos Fluminense da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado, o projeto inclui uma contrapartida social: no mesmo dia 29, das 14h às 16h, o músico e luthier Márcio Vandelei ministra oficina gratuita de banjo na quadra do Império Serrano. Vandelei, referência no samba que integrou por anos as bandas de Beth Carvalho e Arlindo Cruz, oferece aos interessados a oportunidade de aprender técnicas do instrumento que revolucionou o mundo do samba quando o instrumento típico estadunidense ganhou uma versão com braço afinação de cavaquinho. A inovação foi apresentada por Almir Guineto ainda nos anos 1970.

SERVIÇO

CASSIANA 20 ANOS

29/7, às 20h: quadra do Império Serrano (Av. Ministro Edgard Romero 114, Madureira).

Entrada franca