Por: Affonso Nunes

Pedro Mann equilbrando sonho e realidade

'Entre o céu e o pé no chão' é o primeiro disco em que Pedro Mann cuidou de todas as etapas do processo: do financiamento à masterização | Foto: Fotos/Divulgação

"Lá vou eu de novo" — o verso vem embalado por Pedro Mann num sorriso que não se vê mas que se intui no canto. Está ali em seus primeiros segundos, já na abertura, a alma do novo álbum do compositor, "Entre o céu e o pé no chão". Uma alma solar e serena — em tons quentes porém claros, sem saturação.

O quinto disco da trajetória do compositor, cantor e baixista é, em suas palavras, um gesto de maturidade. "Chegou um momento, há uns dois anos, em que eu falei: 'Acho que já tenho aí uma cesta de canções que pode virar um disco'. E cheguei à conclusão de que era um disco que representa uma maturidade", conta Mann. Essa constatação aponta não para um fim, mas sim um reinício. "Lá vou eu de novo", a canção que abre o álbum — e que lhe dá o tom — carrega esse sentido: recomeçar com lucidez, seguir em frente sem ilusões nem amargura. "Eu tô um pouco assim, sem muitas ilusões. Mais pé no chão", diz o artista.

"Entre o céu e o pé no chão" é o primeiro disco em que Mann cuidou de todas as etapas do processo: do financiamento à masterização. É também o mais colaborativo — são mais de 25 músicos convidados, incluindo cordas e sopros. Todas as canções são suas, só ou com os parceiros Gabriel Pondé, Beto Landau, André Gardel e Marcos Carvalheiro. O álbum soa coeso em meio a essa variedade de olhares, orbitando em torno da beleza e do equilíbrio. "Tem um lugar de vulnerabilidade, de colar com os meus e celebrar com os meus", sintetiza Mann.

O álbum traz seis inéditas e três canções previamente lançadas. Mann abre com três da nova safra, escritas de 2022 pra cá: "Lá vou eu de novo", "Ai ai te procurava", "Fica essa canção". A ordem das canções desenha a narrativa do álbum, apresentando de saída a filosofia do presente: "O agora é tudo que a gente tem". "O amor nasceu mulher", por exemplo, foi composta com Pondé no dia em que Mann soube que sua mãe teria que operar de um câncer e que a filha de um amigo tinha acabado de nascer. "Foi um dia muito marcante. É uma canção que celebra isso, a ancestralidade, todas as mulheres que fazem o mundo. É muito forte, a melhor do disco pra mim".

A instrumentação do disco é plural, mas nunca dispersa. Foram quatro guitarristas diferentes, três bateristas, cordas, sopros, pífanos. O baixo se divide entre Mann e Alberto Continentino — que assina a produção de parte do disco, ao lado de Yuri Vilar. Se Yuri é o parceiro de longa data ("da minha bolha", como define Mann), Alberto ampliou o horizonte: "Trouxe outra turma. Gente a que eu não teria acesso normalmente". O piano elétrico, o clima setentista, as camadas de arranjo dão densidade sem pesar.

"Produzir disco é uma desculpa pra estar junto de pessoas queridas", diz Mann. "Entre o céu e o pé no chão" talvez seja isso: um gesto de comunhão, feito de encontros, de aceitação, de gratidão, de beleza, de leveza. "Tô ansioso pra apresentar em primeira mão os arranjos do meu disco novo no formato de trio", conta Mann, que vai mostrar o novo trabalho nesta sexta-feira (25) em apresentação no Blue Note.