O trombone de Josiel Konrad vai ecoar pelos palcos do International Trombone Festival (ITF), no Canadá, carregando consigo toda a potência sonora da Baixada Fluminense. O músico de Austin, em Nova Iguaçu, fará história nesta quinta-feira (17) ao se tornar o primeiro artista de jazz brasileiro e da região metropolitana do Rio de janeiro a se apresentar no renomado evento, considerado um dos maiores festivais de trombonistas do mundo. A participação no ITF, que acontece nesta semana em Ontário, no Canadá, é para o artista o reconhecimento internacional de uma trajetória que desafia convenções e rompe barreiras entre gêneros musicais.
Konrad construiu sua identidade artística longe dos circuitos tradicionais do jazz brasileiro, preferindo as ruas e a inventividade das periferias como laboratório criativo.
Desde o início da carreira solo em 2015, o músico vem desenvolvendo uma linguagem própria que funde jazz, samba, funk carioca e música negra universal, criando um som que escapa a classificações fáceis. Essa abordagem inovadora já resultou em quatro trabalhos autorais - os álbuns "Timeline", "Mais Amor", o EP "Quando Menino" e o aclamado "Boca no Trombone" - e levou sua música a palcos importantes como o Circo Voador, no Rio, e o lendário Ronnie Scott's Jazz Club, em Londres.
A primeira manifestação dessa fusão surgiu com o projeto Gafieira Jazz, que estabelecia pontes suingadas entre universos aparentemente distantes, unindo referências como Chico Buarque e John Coltrane, Cartola e Miles Davis. Mas foi no álbum "Boca no Trombone" que essa experimentação atingiu novo patamar de ousadia. A faixa "Boca Nº 0 - Funk Carioca" exemplifica perfeitamente essa proposta: um encontro explosivo entre metais e tamborzão, onde o trombone assume o protagonismo de um MC, improvisando sobre batidas que ecoam como um baile funk reinventado.
O sucesso do álbum, lançado em vinil com vendas esgotadas, inspirou Konrad a criar o "Jazz Proibidão", evento que ele idealiza e organiza reunindo diversos artistas em uma celebração dessa sonoridade híbrida. A primeira edição lotou a Arena Samol, na Gamboa, com mais de duas mil pessoas, confirmando o apelo popular dessa proposta musical. "Criei o Jazz Proibidão para ser, em muitos sentidos, o palco perfeito para essa sonoridade, onde as fronteiras entre a tradição e a rua se dissolvem", reflete o músico sobre o projeto que se tornou referência na cena cultural carioca.
A participação no ITF representa não apenas um marco pessoal para Konrad, mas também um momento de visibilidade internacional para a música produzida na Baixada. O evento canadense reúne anualmente artistas, professores, estudantes e profissionais de todo o mundo para celebrar as diversas facetas da execução e do ensino do trombone. Como evento itinerante que já passou por diversos países, o ITF oferece uma plataforma única para que Konrad apresente ao mundo sua visão particular do jazz brasileiro, temperada pela urgência e criatividade das nossas periferias urbanas.