No mês em que o orgulho nordestino mais se manifesta o forró segue vivo e pulsante no universo da canção popular com uma nova geração de artistas assumindo a missão de seguir a tradição e dialogar com os novos tempos. Entre eles encontramos Juzé, compositor paraibano que acaba de lançar "Rede no Cangote", single de estreia de seu primeiro álbum solo dedicado ao gênero. A canção, um xote envolvente que chega às plataformas digitais, representa um marco na trajetória do artista e reafirma o forró como expressão musical genuinamente brasileira.
Reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 2021, o forró caminha agora para obter o mesmo reconhecimento da Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Neste contexto, a obra de Juzé ergue uma ponte entre a tradição consolidada por mestres como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Dominguinhos, e as demandas estéticas da música de hoje.
O artista, que construiu sua reputação dividindo palcos com nomes consagrados como Cátia de França, Alceu Valença e Elba Ramalho, demonstra em sua nova canção a capacidade de honrar as raízes sem abrir mão da inovação.
A trajetória de Juzé na música popular inclui passagens significativas pela tevê, quando interpretou o repentista Totonho nas novelas "Mar do Sertão" e "No Rancho Fundo", empunhando o violão nas tradicionais "Cenas dos próximos capítulos".
Sua experiência musical, contudo, transcende a dramaturgia televisiva. O artista integrou a banda Os Gonzagas e colaborou com Lucy Alves e Juliette, desenvolvendo uma escrita que reflete sua formação literária baseada na obra de poetas nordestinos como Patativa do Assaré, Ivanildo Vilanova e Jessier Quirino. Essa bagagem cultural manifesta-se claramente em "Rede no Cangote".
A nova composição revela as múltiplas influências que moldaram a sonoridade de Juzé. "O forró é a minha essência. É a festa do meu povo, expressão da minha gente", declara o artista, explicando que o álbum "vem com minhas origens muito fortes, não apenas juninas, mas nordestinas; a mistura do sangue sertanejo do meu pai, onde bebo da fonte de Luiz Gonzaga, por exemplo, e a musicalidade que consumi com Elba Ramalho, Flávio José, Mastruz com Leite e muitos outros". Esta síntese entre tradição familiar e referências musicais consolidadas resulta numa obra que ele define como "uma memória afetiva da música, do povo, da dança, da rítmica de São João em composições atuais, verdadeiras e com a pegada do meu Bando, um forró vibrante e contemporâneo".
O reconhecimento da crítica acompanha a evolução artística de Juzé. A revista Rolling Stone destacou o paraibano como "um dos artistas mais interessantes dos últimos tempos".
A nova canção surpreende ao incorporar um poema com características de cordel futurista em sua estrutura, recurso que o próprio compositor justifica: "É uma música forte na simplicidade. Uma canção de amor, de saudade, sobre a vontade de estar perto. E a poesia do meio eleva o sentimento, aumenta o tom, esquenta a música, vira uma paixão". O título da música nasceu de uma imagem poética particular: "Eu gosto tanto de um cheiro no cangote que escrevi o verso 'Deixa eu armar uma rede no teu cangote' com a ideia de ficar balançando e cheirando o tempo todo", revela Juzé, elogiando ainda "o arranjo riquíssimo" de Jefferson Brito.
A faixa funciona como cartão de visitas para o o EP "Mormaço de Fogueira", com lançamento previsto para julho.