Aos 27 anos, o cantor e compositor carioca Theo Bial lança seu terceiro álbum solo com um mergulho reverente na obra de Chico Buarque. Batizado de "Theo canta Chico", o novo disco chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (6), mesma data em que será apresentado ao vivo no Blue Note Rio.
Autoproclamado filho da bossa nova e do samba, Theo já demonstrava essa filiação em seus trabalhos anteriores, os álbuns autorais "Vertigem" (2022) e "Neo-Bossa" (2023). Agora, no entanto, se debruça inteiramente sobre a obra de um autor que transita entre os dois mundos com maestria neste álbum que o Correio ouviu antes. Com frescor e suavidade, Theo pisa respeitosamente em solo buarquiano em interpretações desprovidas de qualquer exagero. E o que é simples torna-se pleno em significados, deixando que as canções falem por si.
A ideia nasceu em 2019, com um show dedicado a Chico e Tom Jobim, apresentado na Casa da Glória. A semente plantada ali germinou em sucessivas apresentações, inclusive em temporadas no próprio Blue Note, culminando neste álbum de 15 faixas.
Gravado com espírito de roda de samba, o disco traz arranjos criados em parceria com os irmãos Raoni e Guido Ventapane, netos de Martinho da Vila. O trio fez as bases ao vivo, em clima festivo e comunitário, com panelões de comida no estúdio e gravações concentradas em poucos dias. "Não tem bateria, é tudo percussão. Queríamos um som no esquema do Fundo de Quintal", explica Theo. O resultado é um disco que evoca as rodas de Madureira e da Lapa, mas resgatando com elegância as sofisticadas harmônias da obra do maior compositor brasileiro vivo.
As releituras de Chico incluem temas como "Homenagem ao Malandro", "Quem Te Viu, Quem Te Vê" e "Essa Moça Tá Diferente", canções que Theo já incorporava ao repertório desde os tempos de barzinhos e noites em Ipanema. A relação com o autor, no entanto, vai além da admiração juvenil: "É um repertório que exige atenção ao texto, respeito à melodia. Eu não sou um intérprete teatral. Quero cantar as notas certas e dizer as palavras com clareza", argumenta.
O álbum teve direção artística de Martinho Filho, das irmãs Analimar Ventapane e Mart'nália, e produção musical do próprio Theo. O projeto também conta com participações especiais de nomes como Vidal Assis e Vinícius Guimarães, além de músicos experientes como Adriano Giffoni e Adriano Souza.
Instrumentista dedicado, Theo toca violão em todas as faixas e cavaquinho em algumas — este último, aprendido de forma autodidata. "O violão é parte da minha identidade, e a linguagem dele é de bossa nova", define. A relação com Roberto Menescal, que o convidou para sua turnê japonesa no fim do mês, trouxe ainda mais consistência a essa vertente.
Theo está em constante lapidação de sua expressão vocal - estuda canto com Eveline Hecker, que integrou por anos a Banda Nova de Tom Jobim. "Ela me deu orientações preciosas", diz.
"Theo canta Chico" é trabalho que requer escuta atenta e generosa. O disco está longe de reiventar a obra buarquiana - o que poderia soar pedante. Mas tem o mérito de apresentar jovialidade a um repertório que é pedra fundamental da canção popular brasileira provando que juventude e tradição podem caminhar lado a lado.
SERVIÇO
THEO CANTA CHICO
Blue Note Rio (Av. Atlântica, 1910 - Copacabana) | 6/6, às 22h30
Ingressos a partir de R$ 60