Pense nas melhores rodas de samba promovidas na cidade e certamente ela estará lá. A cavaquinista, compositora e cantora Roberta Nistra lança um novo álbum após 14 anos de sua estreia fonográfica. "Eu Não Ando Só" chegou às plataformas digitais no último fim de semana pelo selo Mestre Sala, com um repertório que celebra o samba em sua forma mais íntima. Produzido por Pierre Aderne, o disco foi gravado entre Madri, Lisboa e Rio - uma travessia que fas juz à máxima de que samba é produção coletiva, é coisa que não se faz sozinho.
A semente do projeto foi lançada por Aderne, músico e produtor radicado há mais de uma década em Portugal. Ao assistir a um vídeo em que Roberta canta sozinha um ponto para Oxóssi — de Roque Ferreira — acompanhando-se ao cavaquinho, na laje de sua casa, o produtor foi tomado por uma emoção duradoura. "Aquela oração me acompanhou por semanas, com uma força tremenda", conta Aderne, que assina a produção e divide três parcerias com Roberta no álbum.
Durante uma temporada de apresentações em Madri com o projeto "Rua das Pretas", Aderne decidiu convidar Roberta para integrar o grupo. Foi também o início das gravações do novo disco, feitas no estúdio do músico Gonzalo Lasheras, na capital espanhola. "Depois ela foi a Lisboa, onde seguimos gravando, e por fim voltamos juntos ao Rio para finalizar o trabalho", relata o produtor. Roberta, por sua vez, recebeu o convite com surpresa e emoção. "Desliguei o telefone em êxtase. Nunca tinha saído do Brasil", lembra a artista, que começou a carreira acompanhando nomes como Wilson Moreira, Monarco e Wilson das Neves.
Com dez faixas, "Eu Não Ando Só" traz composições autorais de Roberta Nistra e parcerias com Pierre Aderne, além de músicas de Roque Ferreira, Dona Ivone Lara, Délcio Carvalho, Moacyr Luz, Chico Alves e Manu da Cuíca. Entre os destaques está "Pra Que Discutir com Madame", clássico lançado nos anos 1940 por Janet de Almeida e Haroldo Barbosa e eternizado por João Gilberto.
A curadoria do repertório aconteceu de forma orgânica durante a residência artística em Madri e Lisboa. "Tudo fluiu livremente. Pierre e eu pensamos em música o tempo todo. Foram muitos encontros, saraus, caminhadas, estúdio, intuição e inspiração", recorda Roberta.
Já no Rio, o álbum recebeu participações especiais de Moacyr Luz e Mingo Silva na faixa "Abre Caminho, Abre", e dos músicos Carlinhos Sete Cordas, Nilson Dourado e Marcos Esguleba — percussionista da banda de Zeca Pagodinho. "Pierre teve a ideia de chamá-lo para montar uma orquestra de tambores. Ficamos fascinados", diz a cantora.
A união do cavaquinho e da voz de Roberta à percussão de Esguleba confere ao disco uma sonoridade minimalista, que remete às rodas pós-show e aos encontros informais da artista com amigos e parceiros. "A alma desse álbum está em encontrar um lugar tranquilo para a voz e o cavaquinho. Eu e meu instrumento, muitos sambas, muitos motivos para cantar. O axé quis que desse certo", conta Roberta, orgulhosa por esse trabalho que merece aplausos e a opoortunidade de chegar aos amantes do samba.