De 2023 para cá, o cenário da música brasileira foi sacudido por três turnês de shows em grandes arenas de futebol. Antes um circuito que parecia reservado a nomes como Ivete Sangalo e os Amigos do sertanejo, o caminho se abriu para Titãs, Caetano Veloso e Maria Bethânia e Gilberto Gil, este ainda viajando com sua turnê de despedida. E o primeiro registro dessas iniciativas sai agora, com o álbum "Caetano e Bethânia".
Ao selecionar o encontro dos irmãos baianos para um modo apenas de audição, é possível dar atenção completa às vozes e aos instrumentos, sem que o ouvinte tenha que dividir isso com a imagem emocionante de ver seus grandes ídolos no palco, com performances vigorosas.
São 33 músicas no pacote. Caetano tem mais tempo no palco do que a irmã. E Bethânia canta um repertório majoritariamente escrito por Caetano, com poucas exceções. A distribuição das músicas no show vai além disso. Estão ali canções que fazem conexões entre as carreiras dos dois.
O disco abre com "Alegria Alegria", sucesso de Caetano no festival da Record de 1967, servindo como ponto de partida, e em seguida vem "Os Mais Doces Bárbaros", remetendo à mítica turnê que eles fizeram ao lado de Gilberto Gil e Gal Costa nos anos 1970. E a próxima é "Gente", um exemplo perfeito dessa proposta de mostrar suas intersecções musicais.
"Gente" teve duas gravações em 1977, nos dois álbuns que eles lançaram naquele ano: "Bicho", de Caetano, e "Pássaro da Manhã", de Bethânia. É curioso comparar as duas e ver como ele canta de um modo confortável, sem esforço, enquanto Bethânia dispara o vozeirão que é uma força da natureza. Ao vivo, os dois tentam aproximar os vocais um do outro. O resultado é harmonioso e encanta.