Por: Affonso Nunes

Um furacão de autoralidade

Khalil Magno, que acaba de lançar o álbum 'Alualuô', compõe desde os 13 anos de idade. Além das letras inteligentes e em sintonia com o seu tempo, sua batida de violão é especial | Foto: Isabela Espíndola/Divulgação

Um furacão do violão. Assim o violonista, arranjador e produtor Jaime Alem define Khalil Magno, jovem artista que lança nas plataformas digitais seu segundo álbum autoral, o excelente "Alualuô", que chega com a chancela do selo Biscoito Fino, berço de trabalhos de excelância musical. O novo trabalho confirma as excelentes expectativas geradas pelo disco de estreia do cantor e compositor, "De Cara pro Vento", de 2020, reafirmando sua maturidade artística, mesmo tendo ele tenros 30 anos de idade.

O novo trabalho reúne nove faixas inéditas, todas assinadas integralmente por Khalil, que busca neste projeto diversidade musical e poética, explorando diferentes temas e estilos num trabalho em sintonia profunda com os dias em que vivemos. Há um que das trovas de Belchior, Xangai, Chico César, Zé Ramalho e Bob Dylan neste paulista de Sorocaba, filho de mãe paraense e pai paulista. Khalil traz neste disco uma sólida consolidação de sua identidade sonora. De tanta brasilidade soa universal.

Além de assinar uma esmerada produção musical, o músico e maestro Jaime Alem participa como instrumentista, enriquecendo as tessituras sonoras do cancioneiro do jovem cantautor. A parceria entre o experiente músico e o jovem talento surgiu por indicação da produtora Maria Braga e do amigo Beto Feitosa, e foi responsável por um processo de gravação inusitado, sem o uso de metrônomo, para garantir maior fluidez nas interpretações.

"Éramos eu no violão e voz, Jaime nas violas e efeitos, e Reginaldo Vargas na percussão. Inicialmente, seria um EP de quatro faixas, mas acabamos gravando nove músicas", explica Khalil, cujo nome homenageia o escritor libanês Khalil Gibran. Jaime Alem destaca a potência do artista: "É compositor, cantor e instrumentista com uma presença única".

Entre as composições, Khalil revisitou canções antigas como "Meu Sexo e Só" e detalha o processo criativo de outras faixas, como "A Sorte da Vida", que teve a letra adaptada para evitar um tom narcísico, com auxílio do produtor. A sonoridade ganhou toques especiais, como os chocalhos no manifesto cordelista-ambiental "Floresta de Pé e Fascismo no Chão" e efeitos de pedaleira em "Memória Astral", que ajudaram a dar cor aos arranjos gravados diretamente no estúdio da Biscoito Fino.

Destaque também para o existencialismo de "Psiconauta" ("Mas logo eu, um psiconauta calejado assim, trucoso / Desconfiei que o tal senhor era meu rosto / o verdadeiro e não aquele que eu mostro") e de "Fecunda Redenção" ("Amargamente um campo de batalha se revela / e eu vejo belo no profano dando um urro sussurando em meu ouvido: 'estou aqui'").

Compositor desde os 13 anos, Khalil também reflete sobre sua trajetória musical e suas influências: "Tudo que toco hoje, ouvi desde criança no carro do meu pai, embora eu dissesse que não gostava para contrariar os adultos", diverte-se. "Também ouvia muito rap nacional e funk dos anos 2000", entrega. Khalil diz recordar ainda a composição mais antiga de que se lembra, "Vagabundamente Puro", compsota aos 16 anos e que permanece relevante em seu repertório.

"Alualuô" revela aquela experiência que é adquirida com sofreguidão e apetite quase que voraz. É sensibilidade e reflexão flertando com experimentações sonoras. Khalil Magno chegou com personalidade à cena musical brasileira. Oxalá que este brilho autoral chegue ao grande público.