Obra inaugural da chamada Vanguarda Paulista, o álbum "Clara Crocodilo" completa mais de quatro décadas mantendo sua força transgressora intacta. Lançado em outubro de 1980 por Arrigo Barnabé e a Banda Sabor de Veneno, o disco é ponto de ruptura e reinvenção na música brasileira.
Com influências que vão da música erudita ao dodecafonismo, passando pelo jazz, pela canção popular e pela trilha sonora de filmes noir, o LP se destacou por sua estrutura rítmica agressiva, pelas harmonias dissonantes e pelas letras que retratam um mundo urbano distópico, povoado por personagens à margem da sociedade.
Para celebrar a longevidade e a atualidade dessa obra singular, Arrigo vem excursionando pelo país com o espetáculo "Clara Crocodilo", no qual revisita o repertório do disco em releitura que mantém o vigor original ao mesmo tempo em que atualiza sua forma de apresentação. Nesta quinta-feira, o espetáculo chega ao Rio em apresentação única no Espaço BNDES, com ingressos gratuitos. Acompanhado por músicos que participaram da gravação do disco em 1980, o artista recria as suítes que compôs ainda jovem, quando começava a romper os limites entre a música de concerto e a canção popular.
"'Clara Crocodilo' foi um grito contra tudo o que era previsível. Eu queria tensionar as estruturas da música popular com uma linguagem nova, que viesse do serialismo, do cinema, dos quadrinhos, do que me formou como artista", explica Arrigo. "Naquela época, falar de violência, mutação, paranoia urbana era quase ficção científica. Hoje, é o cotidiano. Por isso o disco continua atual", comenta.