Por: Affonso Nunes

Dudu Lima, um solista de excelência

Dudu Lima lança álbum que resgata apresentação do seu trio no Festival de Ibitipoca (MG) | Foto: Carol Peres/Divulgação

Em 2025, o contrabaixista mineiro Dudu Lima comemora quatro décadas dedicadas à música instrumental com o lançamento de "Dudu Lima - Live in Brazil", seu 22º álbum. Gravado ao vivo no Ibitipoca Jazz Festival, no centro da vila de Conceição do Ibitipoca, nas montanhas de Minas Gerais, o registro acaba de chegar às plataformas digitais e reafirma a originalidade com que o músico vem reinventado o contrabaixo como instrumento solista.

"Gravar um disco ao vivo é sempre um desafio. A gravação aconteceu no Ibitipoca Jazz Festival, onde já me apresentei outras vezes. A energia do público e o ambiente ao ar livre nas montanhas de Minas foram inspiradores. É um disco que carrega toda essa vibração e entrega musical do trio, com convidados especiais que admiro muito. Estou muito feliz com o resultado e por poder compartilhar esse momento com o público", disse Dudu.

O trabalho traz a performance do Dudu Lima Trio, formado por Dudu ao lado de Caetano Brasil (clarinete e sax), indicado ao Grammy Latino, e do baterista Leandro Scio. O grupo recebe convidados como Carlos Malta, multi-instrumentista apelidado de "escultor do vento", e as cantoras Alice Santiago, Sarah Vieira e Tata Rocha, integrantes do grupo Tata Chama e as Inflamáveis, expoente da nova cena autoral mineira.

No repertório, clássicos revisitados com arranjos originais dividem espaço com composições próprias. Estão no disco temas como "Jesus Alegria dos Homens" (Bach), "Eleanor Rigby" e "Come Together" (Lennon/McCartney), além de autorais como "Rapadura é doce mas não é mole não", "Mágica", "Anjo Sabiá" e "Nascimento". Há ainda uma homenagem a Milton Nascimento em "Nada Será Como Antes", lembrando a parceria entre ambos no disco "Milton Nascimento & Dudu Lima Trio - Tamarear", com participação de Stanley Jordan.

A capa do álbum foi criada por Antônio Carlos Rodrigues, que registrou a apresentação durante o festival. O fotógrafo é autor da imagem icônica do disco "Secos e Molhados" (1973).

Com 22 álbuns lançados em formatos físicos e digitais, Dudu já trabalhou com nomes como João Bosco, Hermeto Pascoal, Wagner Tiso, Toninho Horta, Juarez Moreira e Jean-Pierre Zanella, além dos já citados Milton Nascimento e Stanley Jordan. Em 2022, lançou na Europa o disco "Dudu Lima featuring João Bosco". É também produtor e diretor musical do novo trabalho de Jordan, gravado no Brasil com o Dudu Lima Trio e Jorge Benjor, previsto para 2026.

Sua trajetória inclui apresentações em espaços consagrados, como o Museu de Arte da Pampulha, o Theatro Municipal de São Paulo e o Teatro Carlos Gomes no Rio, além de shows gratuitos em praças públicas e bairros periféricos. O artista também mantém há três décadas um projeto pedagógico de educação musical, com aulas e oficinas voltadas a jovens de Juiz de Fora e região. Entre os locais atendidos estão bairros como Benfica, Sarandira e Rosário de Minas, além de cidades da Zona da Mata como Cataguases, Leopoldina e Muriaé.

Criador e coordenador do projeto Sala de Música, Dudu ofereceu em 2020 uma websérie de 34 aulas voltadas a professores da rede pública estadual de Minas Gerais. A nova fase do projeto, agora presencial, será realizada ao longo de oito meses na Escola Municipal Dante Jaime Brochado, no bairro Santo Antônio, com oficinas destinadas a estudantes da rede pública de Juiz de Fora.

Em 2011, Dudu também atuou como professor substituto na Universidade Federal de Juiz de Fora, ministrando as disciplinas de Harmonia, Improvisação e Prática de Grupo no curso de música.

Pioneiro na valorização do contrabaixo solista, o músico leva a sonoridade da música instrumental mineira contemporânea a palcos de países como Itália, Bélgica, República Tcheca, Portugal, Suíça e Estados Unidos. Também mantém vínculo com causas ambientais, desenvolvendo ações em parceria com o Projeto Tamar em bases como Fernando de Noronha, Aracaju, Ubatuba e Praia do Forte.