Por: Affonso Nunes

Lady Gaga encara a maior plateia de sua vida

Lady Gaga em show promocional da Mayhem Tour (não oficial) realizado mo último 26 na Cidade do México | Foto: www.ladygaganow.net

Depois de muita esperra por parte de sua legião de fãs, Lady Gaga se apresenta neste sábado (3) na orla de Copacabana em show gratuito que deve atrair mais de 1,5 milhão de pessoas. O espetáculo integra o projeto "Todo Mundo no Rio", promovido pela Prefeitura e pela produtora Bonus Track. A magnitude do evento reafirma Copacabana como o maior palco do mundo a céu aberto numa noite certamente entra para a história do entretenimento global.

E o que o público pode esperar? Trata-se de uma apresentação promocional da turnê "Mayhem Ball" e não está listada oficialmente como parte da turnê mundial cuja estreia será em Las Vegas (EUA) no dia 16 de julho.

A apresentação marca o retorno da artista ao Brasil após 13 anos. Na praia, diante de um mar de fãs, Gaga deve entregar um espetáculo com forte apelo visual e tecnológico, incluindo painéis de LED, projeções e figurinos inéditos, todos alinhados à estética sombria e dramática do novo disco.

Lançlado em março, "Mayhem" tem sido apontado pela crítica como o trabalho mais ousado da cantora desde "Born This Way" (2011). Traz influências de synthpop industrial, rock eletrônico e elementos góticos. A produção é assinada por Gaga em parceria com nomes como BloodPop, Rick Rubin e Sophie Ellis-Bextor. A faixa-título, lançada como primeiro single, atingiu o topo das paradas em mais de 30 países, incluindo Estados Unidos, Reino Unido, França e Japão. A recepção internacional foi imediata: a revista Rolling Stone chamou o álbum de "um manifesto sonoro sobre o caos contemporâneo". E o sisudo New York Times destacou a capacidade da artista de reinventar sua própria persona sem perder a conexão com o grande público.

O show em Copacabana, com transmissão ao vivo pela TV Globo, Globoplay e Multishow, deve trazer um repertório que inclui as faixas "Mayhem", "Glass Cathedral", "Kill Me Kindly" e "Mirage Motel", além de sucessos como "Bad Romance", "Shallow" e "Rain on Me". A performance contará ainda com um set acústico no qual Gaga canta ao piano — uma das marcas de suas turnês anteriores — e um encerramento pirotécnico com a nova versão estendida de "Bloody Mary".

Após o show no Rio, Gaga segue para apresentações promocionais no México e em Singapura antes de dar início à turnê mundial. A artista retorna ao Brasil em 25 de outubro, com um espetáculo no Estádio Nilton Santos, o Engenhão, com ingressos já esgotados.

SERVIÇO

LADY GAGA

Praia de Copacabana

3/5, a partir das 21h

Gratuito

Transmissão pela TV Globo, Globoplay e Multishow

Extravagância e ousadia artística têm nome e sobrenome: Lady Gaga

A artista em seu show no festival Coachella neste ano | Foto: Fotos/www.ladygaganow.net

Por Lanna Silveira

Muito antes de ser mundialmente conhecida como a "mother monster", Lady Gaga era apenas Stefani Germanotta - uma artista nova iorquina que se apresentava em casas noturnas desde os 14 anos e perseguia o sonho de se consolidar como artista. Mesmo em suas primeiras performances, já emulava o estilo irreverente de artistas como David Bowie, Prince e Madonna, que são influências citadas constantemente pela cantora ao longo de sua carreira.

O nome artístico, junto à aderência total de uma persona artística extravagante e ousada, surgiu em 2007 - segundo o produtor musical Rob Fusari, a ideia faz referência à canção "Radio Ga Ga", do grupo britânico Queen, versão contestada ao longo dos anos. Nessa época, assina contrato com um selo da gravadora Interscope e começa a desenvolver o seu primeiro álbum, "The Fame" (2008).

A atitude rebelde de Gaga, junto ao seu apreço pela excentricidade, trouxe um frescor ao cenário pop da época, que ainda tentava se encaixar no molde otimista e chicletudo de nomes como Spice Girls, Backstreet Boys e Britney Spears lá no fim da década de 1990. Canções como "Poker Face" e "Paparazzi" se tornaram hits instantâneos, alcançando altas posições nas paradas e tendo videoclipes muito repercutidos, começando a consolidar uma legião fiel de fãs que se identificavam com os temas abordados por ela em sua música. Seu status de ícone pop, assim como a força de seu impacto cultural e estético, se consolidaram nos lançamentos seguintes: "The Fame Monster" (2009) e "Born This Way" (2011). Entre momentos antológicos como o vestido de carne no VMA de 2010, os videoclipes virais de "Bad Romance" e "Telephone", o abraço à comunidade LGBTQIAPN com canções como "Born This Way", e momentos polêmicos - como as referências religiosas nos clipes de "Alejandro" e "Judas", além das crescentes comparações e acusações de plágio a obra de Madonna, Gaga mostrou que seu nome não seria passageiro.

Após a recepção morna do álbum "Artpop" (2013), lançado em meio a uma assumida fase difícil na vida pessoal da cantora, a carreira de Gaga sofreu uma virada de chave, que acarretou a expansão de seus horizontes artísticos e garantiu a renovação da sua imagem, além da firmar sua posição na indústria fonográfica. Nos anos seguintes, Gaga se aventurou no jazz junto a Tony Bennett, nome lendário do gênero, em "Cheek To Cheek" (2014), além de honrar suas influências em gêneros como rock, country e folk em "Joanne" (2016). A artista também decidiu investir na carreira de atriz, conquistando papéis notáveis na série "American Horror Story: Hotel" (2015) e no grande sucesso "Nasce Uma Estrela" (2018), que lhe rendeu uma vitória no Oscar e mais um hit em sua carreira musical: o dueto "Shallow", com o parceiro de cena Bradley Cooper. Em anos seguintes, Gaga se mostrou tão aficionada pela atuação quanto pela música, se envolvendo com entusiasmo e dedicação em projetos como "Casa Gucci" (2021), interpretando Patrizia Reggiani, condenada pelo assassinato de Maurizio Gucci, além de "Coringa 2" (2024), interpretando o papel da icônica vilã Arlequina junto a Joaquin Phoenix.

Apesar de quase uma década de "fuga" da música pop, a década de 2020 marcou o retorno de Gaga a sua velha forma - para a imensa satisfação dos fãs, que clamavam por seu retorno ao gênero desde Joanne. Sua primeira aposta veio com o álbum "Chromatica" (2020), que flertou com o renascimento do house e do dance noventista muito presente nos lançamentos musicais da época, além de marcar o abandono da estética minimalista adotada por Gaga nos últimos anos, apresentando uma imagem inspirada no futurismo e no cyberpunk. Seu lançamento mais recente, "Mayhem" (2025), soa como uma reverência sonora e performática aos primeiros trabalhos de Gaga, sacramentando a volta do eletropop ao seu catálogo e abraçando, novamente, o bizarro e o sombrio para construir um trabalho atrevido, audacioso e único.