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A maturidade artística de Josyara

Josyara: 'Desejo que a alegria que senti ao fazer esse disco alcance as pessoas' | Foto: Juh Almeida/Divulgação

Por Affonso Nunes

Trabalho após trabalho, a baiana Josyara vem se firmando como uma das mais importantes cantautoras de sua geração. "Avia", seu novo álbum, já nas plataformas digitais, não foge a esse destino. O terceiro trabalho autoral da cantora, compositora e violonista baiana reúne dez faixas que revelam sua maturidade artística, seu domínio sobre arranjos e sua perssonalidade como produtora musical — função que divide com Rafael Ramos.

O repertório traz colaborações com nomes de destaque como Chico Chico, Liniker, Pitty, Juliana Linhares e Iara Rennó, além de releituras de Anelis Assumpção e Cátia de França. Entre parcerias inéditas e homenagens, Josyara reafirma sua capacidade de transitar por diferentes linguagens sonoras sem abrir mão da singularidade de sua voz, de seu violão altamente percussivo e de sua escrita precisa.

"Avia significa deixar correr, caminhar, despachar, adiantar, concluir", explica a artista. A escolha do nome revela a intenção de seguir em frente com leveza e decisão, traduzindo em som o movimento contínuo de quem não espera: faz. "Avia" soa como afirmação — da identidade de Josyara como cantora, instrumentista e compositora — e como gesto generoso de partilha, que busca alcançar diferentes públicos com a mesma intensidade.

A abertura do disco é com "Eu Gosto Assim", releitura da canção de Anelis Assumpção, que contrapõe prazeres e dissabores da vida adulta com poesia e leveza. Em seguida, "Seiva", feita com Iara Rennó, celebra o prazer e o desejo com liberdade. Já "Festa Nada a Ver" transforma a dor da despedida em lirismo, sem abandonar a força melódica.

Homenageando Cátia de França, Josyara gravou "Ensacado", do disco "20 Palavras ao Redor do Sol" (1979), ao lado de Pitty. "Esta música acende em mim uma inspiração, um lugar de resiliência", conta. "Pela força da letra, achei que combinou muito com a voz, o timbre, a interpretação e, inclusive, com a obra de Pitty. Foi muito especial cantarmos juntas."

O álbum segue com "Corredeiras", que ganhou videoclipe dirigido por Juh Almeida, e "Sobre Nós", parceria com Pitty. Em "De Samba em Samba", a percussividade do violão de Josyara se junta ao trio formado por Thiago da Serrinha, Carlinhos 7 Cordas e Kainã do Jêje, numa faixa em que a força rítmica se impõe. O delicado "Eu Não Sou Prova de Amor", feito com Juliana Linhares, é um samba-bilhete de pouco mais de um minuto — breve, direto e marcante.

"Peixe Coração", composta com Liniker em 2019, foi ganhando novos contornos até se tornar uma das faixas mais etéreas do álbum. "Ela foi se transformando ao longo do tempo, ganhando outros sentidos, um tom mais lúdico e subjetivo", diz Josyara. O disco se encerra com "Oasis (A Duna e O Vento)", dueto com Chico Chico. "Sou muito fã de Chico, acho que ele tem uma doçura e uma potência muito especiais. Ele deu à canção toda beleza que ela pedia", diz a baiana de Juazeiro, a mesma cidade que nos deu João Gilberto.

Gravado no Estúdio Tambor, no Rio, com sessões adicionais no Estúdio T, em Salvador, "Avia" é um lançamento da gravadora Deck. Para Josyara, o álbum marca um ponto de virada em sua trajetória. "Desejo que a alegria que senti ao fazer esse disco alcance as pessoas. Que elas possam se emocionar e tenham vontade de compartilhar com quem elas gostam."

"Avia" fala de amor, saudade, despedidas e reencontros — temas tão íntimos quanto universais. E, ao dar voz a esses sentimentos, Josyara confirma que seu canto segue avante, com rumo certo e asas abertas. Se você ainda não a conhece, o faça logo.