Radicada em Paris há uma década, a cantora e compositora paulistana Gabriella Lima apresenta "Sabor Solaire", seu segundo álbum, lançado nas plataformas de streaming. O trabalho bilíngue reafirma suas raízes na MPB e explora o universo da chanson française, criando uma fusão singular, uma "chanson brasileira".
Com um estilo caracteristicamente pop e contemporâneo, Gabriella não perde de vista sua conexão com a brasilidade. Embora influenciada pela música internacional, ela revisita suas referências da MPB, com nomes como Caetano Veloso e Jorge Ben Jor, infundindo um toque pessoal e autoral nas composições.
O álbum se destaca pela riqueza de suas letras poéticas em português e francês, língua que Gabriella adotou como meio de expressão musical após se estabelecer na França. "O francês é muito literal, diferente da licença poética que temos no Brasil. Isso impacta diretamente nas músicas", explica.
O título "Sabor Solaire" reflete o clima solar e leve do disco, que é um reflexo da nova fase da artista. Se o álbum anterior, "Bálsamo" (2021), falava sobre rupturas e lutas pessoais, o novo trabalho evoca um momento de reconciliação e serenidade, simbolizado pela sonoridade alegre e otimista. Gabriella descreve o processo de criação como um retorno ao seu "eu", agora mais seguro de suas escolhas musicais.
Parte da inspiração para o disco veio de uma temporada de três meses que a artista passou nas Ilhas Maldivas, onde teve tempo livre durante o dia para compor e criar. A influência das paisagens paradisíacas transparece em faixas como "Couleur Bonheur", uma canção envolvente que remete a cenários idílicos e à sensação de liberdade.
Com nove faixas e uma música bônus prevista para maio, o álbum inclui colaborações com artistas como Vanille e Léo Middea. Em "Se Me Chamar Eu Vou", Gabriella apresenta uma versão de "Suivre Le Soleil", sucesso da cantora Vanille, mesclando o clima festivo com a melancolia do inverno parisiense. Já em "Atlântico", a saudade de um amor distante é expressa com delicadeza, sem recorrer ao romantismo tradicional.
Dentre as faixas mais destacadas, "Metamorfose" surge como uma celebração da autossuficiência, com uma sonoridade que mistura percussão, rap e a energia do soul brasileiro.
O álbum também reflete a fusão de culturas, com o toque de afoxé em "Meu Lugar" e a beleza melancólica de "Entre Ça et Là", que explora o dilema existencial de quem se divide entre dois mundos.
O disco fecha com "Mon Inconnu", uma balada emocionante escrita para seu pai, com quem Gabriella nunca teve convivência. A canção, toda em francês, representa um esforço da artista para lidar com o passado e encontrar uma conexão com uma parte de sua história familiar.