Roberta Flack, a voz por trás de uma penca de sucessos, incluindo o hit "Killing Me Softly With His Song", faleceu nesta segunda-feira (24) aos 88 anos. “Estamos de coração partido, pois a gloriosa Roberta Flack faleceu nesta manhã”, diz o comunicado divulgado por sua família. “Ela morreu pacificamente, cercada por sua família. Roberta quebrou barreiras e recordes. Ela também foi uma educadora orgulhosa.” Após adoecer durante uma apresentação em 2018, seu empresário revelou que Flack havia sofrido um derrame alguns anos antes.
Com sua presença marcante e a versatilidade para cruzar as fronteiras de vários gêneros musicais, a artista emprestou seu belo timbre a toda a gama de canções românticas. Flack é apontada como uma das maiores artistas da soul e do R&B de todos os tempos.
Roberta Flack nasceu em 1937 em Black Mountain, na Carolina do Norte (EUA), em uma família de músicos. Sua mãe, Irene, era organista de coral em uma igreja, o que levou Roberta a ter contato precoce com a música religiosa e clássica. Começou a tocar piano aos nove anos e, aos 15, foi admitida na Howard University com uma bolsa integral para estudar música, sendo uma das estudantes mais jovens a ser aceita na história da instituição.
Aos 19 anos, após se formar, Roberta aspirava a ser cantora de ópera, antes de assumir um cargo de professora. Paralelamente, começou a se apresentar em clubes noturnos durante as noites e fins de semana, mesclando elementos de música clássica, blues, folk, Motown e pop. Sua virtuosidade garantiu-lhe apresentações regulares em locais de Washington DC e, em 1968, uma temporada num restaurante a fez abandonar definitivamente o ensino.
Ela conheceu o pianista e cantor de soul jazz Les McCann, que a apresentou à Atlantic Records – no início de 1969, ela já estava gravando seu álbum de estreia, "First Take", numa janela de apenas 10 horas em estúdio. O álbum retratava aqueles de cantora da noite, imortalizando a coleção eclética de faixas que ela passara tanto tempo inrterpretando. Nas notas de capa da edição original, McCann escreveu: “A voz dela tocou, bateu, prendeu e expressou todas as emoções que eu já conheci. Eu ri, chorei e gritei por mais.”
Foi somente em 1971, e com sua participação na trilha sonora de "Play Misty for Me", de Clint Eastwood, que sua versão da balada folk "The First Time Ever I Saw Your Face" se tornou seu primeiro grande sucesso nos Estados Unidos. A música ficou seis semanas em primeiro lugar em 1972, conquistando um prêmio Grammy de gravação do ano em 1973. "Killing Me Softly With His Song" lhe rendeu o mesmo prêmio em 1974, fazendo de Flack a primeira artista a vencer dois anos consecutivos. Nesse ano, ela obteve outro Nº 1 nos EUA com "Feel Like Makin’ Love".
Nessa época, a estrela começou a colaborar com a lenda do soul Donny Hathaway; a dupla teve dois hits entre os cinco primeiros nos EUA com "Where Is the Love" e "The Closer I Get to You". Em 1980, um ano após a morte de Hathaway, a dupla teve um sucesso póstumo no Reino Unido com "Back Together Again", que alcançou o Nº 3, embora o maior hit da carreira de Flack no Reino Unido tenha sido com seu novo parceiro de dueto, Peabo Bryson: a balada "Tonight, I Celebrate My Love", que chegou ao Nº 2 em 1983.
A impressionante gama de influências e colaboradores de Flack era um reflexo de sua abordagem multidisciplinar e estilo idiossincrático. Ela fez duetos com Michael Jackson, turnês com Miles Davis e gravou covers de Leonard Cohen e Laura Nyro. Após seu sucesso inicial, passou a ser associada ao crescimento do chamado quiet storm, um desdobramento profundo, maduro e reflexivo do R&B, que mais tarde inspiraria artistas como Erykah Badu, D’Angelo e os Fugees (que, por sua vez, gravaram uma versão de "Killing Me Softly" que rivalizou com a de Flack como a versão definitiva). Mais recentemente, em 2012, Flack lançou uma série de covers dos Beatles em um álbum intitulado "Let It Be Roberta".
Ela disse certa vez a um jornalista: “O que eu considero ser é uma cantora de alma, pois tento cantar com todo o sentimento que tenho no corpo e na mente. Uma pessoa com verdadeira alma é aquela que pode pegar qualquer canção e transcender todas as falhas, a técnica, e simplesmente fazer você ouvir.”