Por: Affonso Nunes

Os anos 80 estão entre nós!

Ex-baterista da Blitz antes de iniciar carreira solo, Lobão revê a antiga banda com quem dividirá a noite neste sábado no Qualistage. E no Circo Voador a dobradinha de rock brasileiro oitentista terá Plebe Rude e Zero | Foto: Divulgação

Neste fim se semana o rock brasileiro dos anos 1980 toma conta da cidade com shows de quatro das bandas mais influentes daquele período tão conturbado de nossa história. De um lado, a Plebe Rude e o Zero se apresentam no Circo Voador nesta sexta-feira (7), revisitando álbuns seus respectivos álbuns, "O Concreto Já Rachou" (1985) "Passos no Escuro" (1984) - clássicos que marcaram gerações. Na noite seguinte, a irreverência da Blitz e e o existencialismo de Lobão, que também celebra o aniversário do acalamdo "Vida Bandida" (1987), tomam o palco do Qualistage, em dois shows completos, trazendo suas trajetórias repletas de hits e histórias inesquecíveis. E com a enorme possibilidade de o ex-baterista da Blitz se juntar à antiga banda numa canja especial.

A exemplo da música de protesto dos anos 1960 e dos movimentos da Tropicália e do Clube da Esquina década seguinte, o rock brasilis foi um dos momentos mais marcantes da música nacional, consolidando o gênero com identidade própria. Influenciado pelo punk e new wave, trouxe letras que abordavam política, sociedade e cotidiano, refletindo a abertura democrática do país. Em um período de transição entre a ditadura militar e a redemocratização, muitas bandas canalizaram em suas letras o sentimento de insatisfação e desejo de mudança da juventude. temas como censura, repressão, desigualdade social e alienação, dando voz a uma geração que ansiava por liberdade. Havia crítica social e liberdade sexual naquelas canções, muitas delas atravessando gerações.

O movimento do chamadop BRock ajudou a fortalecer a consciência crítica de muito jovens brasileiros e consolidou o rock como uma ferramenta de contestação e expressão cultural. E o que nasceu aletrnativo, underground, contestador, conquistou o mainstream via rádios FM, videoclipes e tudo isso ganhou ainda mais força com o Rock in Rio de 1985. Continua na página seguinte

 

Um reencontro histórico

Macaque in the trees
Lobão (ao centro, abaixo) integrou a primeira formação da Blitz | Foto: Reprodução facebook Lobão

 

Na noite deste sábado (8), o Qualistage recebe duas forças do rock carioca, cada qual com seu estilo marcante: Blitz e Lobão.

A Blitz não apenas marcou os anos 1980, mas redefiniu o cenário pop-rock brasileiro com seu estilo teatral, letras bem-humoradas e a presença carismática de Evandro Mesquita. O grupo surgiu da efervescente cena cultural carioca e ganhou projeção nacional em 1982 com "Você Não Soube Me Amar", hit instantâneo que vendeu mais de 1 milhão de cópias e abriu caminho para a explosão do BRock. O álbum de estreia, "As Aventuras da Blitz" (1982), consolidou a banda como um fenômeno. Misturando rock, reggae e uma pegada tropical, a Blitz marcou época com sucessos como "A Dois Passos do Paraíso" e "Weekend". A teatralidade de suas apresentações e os clipes inovadores ajudaram a construir uma identidade única.

Após um hiato nos anos 1990, a Blitz retornou com força nos anos 2000, lançando novos álbuns e mantendo uma agenda intensa de shows. Em 2017, o grupo foi indicado ao Grammy Latino, e, em 2020, sua trajetória virou documentário no filme "Blitz - O Filme". A banda também brilhou no Rock in Rio 2022, lotando o palco Sunset. Atualmente, a Blitz segue na estrada com sua "Turnê Sem Fim", que já passou por EUA, Europa e Japão. Sua formação atual conta com Evandro Mesquita (vocal, guitarra e violão), Billy Forghieri (teclados), Juba (bateria), Rogério Meanda (guitarra), Sara Rosemback (baixo) e as backing vocals Andréa Coutinho e Nicole Cyrne.

Poucos artistas personificam tanto o espírito irreverente e contestador do BRock quanto Lobão. João Luiz Woerdenbag Filho começou sua trajetória nos anos 1970 como baterista do Vímana, banda que reuniu Lulu Santos e Ritchie. Em 1982, integrou a formação original da Blitz, mas logo partiu para uma bem-sucedida carreira solo. Seu primeiro álbum, "Cena de Cinema" (1982), trouxe faixas como "O Homem-Baile", mas foi com "O Rock Errou" (1985) que ele consolidou seu nome, emplacando sucessos como "Me Chama" e "Revanche". Seu estilo provocador e sua postura independente se tornaram marcas registradas, culminando em álbuns como "A Vida é Doce" (1999), lançado de forma independente, desafiando as grandes gravadoras ao ser distribuído em bancas de jornal.

Nos anos 2000, Lobão reinventa a carreira mais uma vez com o "Acústico MTV", que lhe rendeu um Grammy Latino. Além da música, se destacou como escritor, lançando a autobiografia "50 Anos a Mil", um best-seller que narra sua trajetória sem filtros. Em 2021, publicou "60 Anos a Mil", complemento que revisita sua última década de vida e carreira.

Com uma trajetória de sucessos, experimentações e muitas polêmicas, Lobão se mantém relevante e continua inovando. Recentemente, iniciou o projeto de releituras de sucessos da MPB com seu olhar único sobre músicas emblemáticas do cancioneiro nacional, dando a elas um estilo irreverente e uma sonoridade rock. O projeto reafirma sua versatilidade como artista, que sempre se desafiou a explorar novos territórios musicais ao longo da carreira.

Ele se apresenta em formato power trio, ao lado de Guto Passos (baixo e vocal) e Armando Cardoso (bateria), prometendo uma noite visceral.

SERVIÇO

BLITZ E LOBÃO

Qualistage (Via Parque Shopping - Av. Ayrton Senna, 3000 - Barra da Tijuca) | 8/2, às 21h30 | A partir de R$ 85

 

A contestação que veio do Planalto

Reprodução de reportagem da extinta revista Manchete reunindo diante do Congresso Nacional os integrantes da Plebe Rude, capital Inicial e Legião Urbana, bandas icônicas que, a partir de Brasília, conquistaram o Brasil | Foto: Reprodução

O´Circo Voador recebe uma homenagem ao rock nacional com a Plebe Rude tocando, na íntegra, "O Concreto Já Rachou", seu álbum de estreia e que deu ao Brasil hinos de resistência como "Proteção", "Até Quando Esperar" e "Minha Renda". Lançado em 1985 e premiado com Disco de Ouro, o disco segue como um dos mais cultuados do gênero.

Formada em Brasília no final dos anos 1970, a Plebe Rude emergiu como um dos pilares do rock nacional ao lado de Legião Urbana e Capital Inicial, compartilhando com essas bandas a atmosfera efervescente da cena brasiliense. Inspirada pelo punk britânico e pelo pós-punk, a Plebe se destacou pelo som vigoroso e pelas letras afiadas, que abordavam temas sociais e políticos com ironia e contundência.

Após o impacto de "O Concreto Já Rachou", a banda lançou "Nunca Fomos Tão Brasileiros" (1987), que consolidou seu espaço com faixas como "Censura" e "A Ida". Nos anos 1990, enfrentou mudanças de formação e experimentou novos caminhos musicais, mas manteve sua essência crítica. A partir dos anos 2000, retomou as atividades com novos trabalhos e turnês. Sua formação atual é Philippe Seabra (guitarra e voz), André X (baixo), Clemente Nascimento (guitarra e voz) e Marcelo Capucci (bateria), mantendo viva sua sonoridade combativa e autêntica.

Quem abre a noite é outra lenda da cena, o Zero. Guilherme Isnard e sua banda celebram quatro décadas do disco "Passos no Escuro", que consolidou o grupo no rock brasileiro com hits como "Agora Eu Sei" (em dueto marcante com Paulo Ricardo, do RPM) e "Formosa". O álbum rendeu à banda um Disco de Ouro e segue sendo um marco daquela década tão eclética.

SERVIÇO

PLEBE RUDE E ZERO

Circo Voador (Rua dos Arcos s/nº)

7/2, a partir as 20h (abertura dos portões)

Ingressos entre R$ 80 (meia) e R$ 180