Viaduto histórico do subúrbio carioca recebe programação literária e musical gratuita de 20 a 22 de novembro, unindo palavras e melodias em homenagem à Consciência Negra
O Viaduto de Madureira, palco histórico do célebre Baile Charme e ponto de encontro da cultura suburbana carioca, viverá dias intensos de celebração durante a semana da Consciência Negra. Entre 20 e 22 de novembro, o espaço sediará simultaneamente a 11ª edição da FLUP – Feira Literária das Periferias e a quarta edição do Festival Madureira, numa programação integrada que promete transformar o coração do subúrbio numa verdadeira festa da cultura negra brasileira. E Madureira faz jus a essa mobilização: é berço do samba e do jongo carioca, território onde nasceram as lendárias escolas Portela e Império Serrano, e onde a identidade afro-brasileira pulsa com força nas ruas, nas rodas de samba e nos bailes que atravessam madrugadas.
A FLUP 2025 chega a Madureira com uma homenagem especial à escritora mineira Conceição Evaristo, uma das vozes mais potentes da literatura brasileira contemporânea. Aos 78 anos, a autora de "Ponciá Vicêncio" e "Olhos D'água" será celebrada com mesas de debates, lançamentos de livros e rodas de conversa que atravessam os três dias do evento. A programação literária acontece das 10h às 22h, ocupando tanto a Praça das Mães quanto o icônico espaço sob o viaduto. Entre os destaques, a própria escritora participará de uma conversa sobre sua trajetória nesta sexta (21), às 18h, ao lado de Elisa Lucinda. "Escolhemos Madureira porque é aqui que a literatura encontra a vida real das periferias, onde as histórias que contamos nos livros ganham corpo e voz", afirmou Ecio Salles, um dos curadores da FLUP.
A feira literária reunirá mais de 100 escritores, entre nomes consagrados e vozes emergentes da literatura periférica. No dia 20 de novembro, a abertura contará com uma mesa sobre "Literatura e Resistência Negra", com participação de Cidinha da Silva, Itamar Vieira Junior e Allan da Rosa. Já no dia 22, a programação fecha com um debate sobre "O Futuro da Literatura Periférica", mediado por Heloisa Buarque de Hollanda. Haverá também saraus poéticos, apresentações de slams, oficinas de escrita criativa e uma feira de livros com mais de 50 editoras independentes. A curadoria especial de literatura infantojuvenil trará contações de histórias e atividades para crianças durante toda a tarde, transformando o viaduto num grande espaço de encontro entre gerações.
Paralelamente à efervescência literária, o Festival Madureira traz para o mesmo espaço uma programação musical que dialoga diretamente com as raízes culturais do bairro e reúne desde manifestações ancestrais até batidas contemporâneas da cultura afro-brasileira. A FLUP abre nesta quarta-feira (19) com o pianista Jonathan Ferr, cria do bairro, apresentando o "Concerto para Conceição", fusão de jazz, soul, rap e música eletrônica em homenagem à escritora Conceição Evaristo. Na quinta (20), Dia da Consciência Negra, Mano Brown traz a poesia dos Racionais MC's, enquanto a Companhia de Aruanda celebra 15 anos reunindo quatro grupos de jongo: Afrolaje, Dandalunda, Tambor de Cumba e Jongo da Lapa. A sexta (21) tem Bloco Afro Agbara Dudu à tarde, Bateria do Império Serrano à noite, seguidos por Awurá e Akyo. O sábado (22) reúne escolas mirins Filhos da Águia e Império do Futuro, homenagens às passistas veteranas Aldione Senna, Karin Rodrigues e Soninha Bum Bum, Bloco Afro Lemi Ayó e, na madrugada, o lendário Baile Charme. No domingo, 23, Majur encerra a primeira semana. A segunda semana traz Luedji Luna (27/11), Akiyo com Fanswa Ladrezeau (28/11), Bateria da Portela com Baile Charme (29/11) e Mart'nália com nova apresentação da Portela fechando a programação (30/11), reafirmando Madureira como território onde literatura e música se entrelaçam organicamente na celebração da cultura negra brasileira.
Durante os três dias, a Feira Crespa funcionará das 14h às 23h, oferecendo produtos de empreendedores locais, alimentação e artesanato afro-brasileiro. A convergência entre literatura e música, entre palavra escrita e performance, entre reflexão e celebração, cria uma atmosfera única que reafirma Madureira como território potente de produção cultural. "O Festival é uma ferramenta que chama a atenção para essa potência enorme da cultura suburbana para a geração de trabalho e renda e de felicidade para os moradores daqui. É fruto desse movimento da nossa rede local que tá botando Madureira de novo no epicentro da cena cultural da cidade", declarou Rodrigo Nunes, um dos idealizadores da Rede Madureira, responsável pela organização do festival musical.
Marcos André, também organizador do Festival Madureira, reforçou a importância simbólica da união dos dois eventos: "O Festival Madureira é uma plataforma para dar visibilidade ao Distrito Criativo de Madureira que criamos para implantar um circuito de turismo étnico e um programa de desenvolvimento da economia criativa preta aqui no nosso bairro. Nossa região tem uma história e uma marca muito poderosa na cultura do Brasil". A parceria entre FLUP e Festival Madureira é mediada pela Rede de Patrimônio Imaterial do Rio de Janeiro e conta com apoio da Subprefeitura da Zona Norte, consolidando uma rede de articulação cultural que extrapola o evento em si.
O encontro entre a feira literária e o festival musical em plena semana da Consciência Negra evidencia que Madureira não é apenas cenário, mas protagonista de uma narrativa de resistência e criação cultural. Ali, onde o samba nasceu e o charme se reinventou, onde o jongo ecoa memórias ancestrais e a literatura periférica encontra seus leitores, a cultura negra brasileira se afirma não como folclore ou nostalgia, mas como força viva, criativa e transformadora que segue escrevendo a história do Rio de Janeiro e do país.
SERVIÇO:
FLUP 2025 e Festival Madureira
Datas: 20 a 22 de novembro (quinta a sábado)
Local: Viaduto de Madureira, Praça das Mães e Espaço do Baile Charme
Horário: Programação literária das 10h às 22h; shows musicais a partir das 21h; Feira Crespa das 14h às 23h
Entrada franca
