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Prêmio Camões de 2025 vai para poeta angolana Ana Paula Tavares

Destaque da nova poesia em língua portuguesa, a angolana Ana Paula Tavares admira os autores brasileiros | Foto: Divulgação

Autora se destaca pelo olhar atento aos grandes desafios contemporâneos da África, do Brasil e de Portugal

A poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares venceu o Prêmio Camões 2025, o mais importante reconhecimento literário da língua portuguesa. Aos 72 anos, Tavares é autora de livros que transitam por diversos gêneros.

"Procuro dizer Angola de todas as formas possíveis deixando que o eco das palavras se entreteça de uma memória antiga fundadora e, ao mesmo tempo, com os pés bem assentes na terra adivinhar o futuro. Assim, a geografia é feita de sul e Angola amplia esse sentimento de pertença, que me permite escutar para só depois dizer. O verso declina-se sob a razão de Angola, uma forma de existir e escrever", disse a autora ao repórter Rodrigo Fonseca em entrevista ao Correio publicada em dezembro de 2023.

Nesta mesma entrevista, ela declarou aos autores brasileiros. "A poesia brasileira foi sempre água, remédio e caminho. Também nos poetas homens, de Drummond a Manoel de Barros... ou João Cabral de Melo Neto. As vozes femininas que tomam conta de mim são: Adélia Prado, Ana Cristina César, Hilda Hist, Conceição Evaristo. A poesia surpreende-me sempre e as novas vozes que ando a ler também, como Warsan Shire e tantas outras poetisas africanas como Conceição Lima", comentou

A autora foi escolhida por um júri internacional que destacou, em nota, a "fecunda e coerente trajetória de criação estética" e o "resgate de dignidade da Poesia" em sua obra.

Doutora em Antropologia da História pela Universidade Nova de Lisboa (2010), Mestre em Literatura Brasileira e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, ela publicou pérolas como "O Sangue da Buganvília", "O Lago da Lua", "Dizes-me Coisas Amargas Como Os Frutos", ""Manual Para Amantes Desesperados", "Ex-Votos", "A Cabeça de Salomé", "Os Olhos Do Homem Que Chorava No Rio" (em parceria com Manuel Jorge Marmelo), "Como Velas Finas Na Terra", "Ritos de Passagem" e "Um Rio Preso nas Mãos" - este, um volume de crônicas publicado no Brasil pela Kapulana. A autora também integrou a recente coletânea poética "Verbetes para um Dicionário Afetivo", da Pallas.

Ao comentar a escolha, a ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes, afirmou que premiar Tavares é "celebrar a força e a beleza da literatura lusófona".

A premiação, no valor de 100 mil euros (cerca de R$ 590 mil reais), é concedida conjuntamente pelos governos do Brasil e de Portugal à autora pelo conjunto de sua obra. A entidade brasileira responsável pela premiação é a Biblioteca Nacional, presidida pelo poeta Marco Lucchesi, que destacou o olhar da autora como atento aos grandes desafios contemporâneos da África, do Brasil e de Portugal.

Concedido desde 1989, o Camões já premiou 15 autores brasileiros. São eles: João Cabral de Melo Neto (1990), Rachel de Queiroz (1993), Jorge Amado (1994), Antonio Candido (1998), Autran Dourado (2000), Rubem Fonseca (2003), Lygia Fagundes Telles (2005), João Ubaldo Ribeiro (2008), Ferreira Gullar (2010), Dalton Trevisan (2012), Alberto da Costa e Silva (2014), Raduan Nassar (2016), Chico Buarque (2019), Silviano Santiago (2022) e Adélia Prado (2024).