Por: Olga de Mello - Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA / LIVRO / O TEMPO DA INFÂNCIA: A aurora da vida

Ativista social, Françoise Ega iniciou seus escritos quando conheceu a obra da brasileira Carolina Maria de Jesus com quem se identificou profundamente | Foto: Reprodução

Memórias, livro de formação, autobiografia. Todas as classificações oferecidas abraçam, porém, são insuficientes para rotular "O Tempo da Infância" (Todavia, R$ 68,50), o único livro que a antilhana Françoise Ega publicou em vida. Destacada militante dos direitos de imigrantes das ex-colônias francesas, ela morreu em 1976, em Marselha, onde foi empregada doméstica antes de se dedicar às causas sociais.

Macaque in the trees
Ativista social, Françoise Ega iniciou seus escritos quando conheceu a obra da brasileira Carolina Maria de Jesus com quem se identificou profundamente | Foto: Divulgação

Na década de 1960, folheando uma revista Paris Match, descobriu a existência de Carolina Maria de Jesus, para quem passou a escrever cartas jamais enviadas, descrevendo seu cotidiano e imaginando as semelhanças entre ambas, marcadas pelas dificuldades da sobrevivência com subempregos. O material epistolar foi reunido, depois de sua morte, em "Cartas a uma Negra" (Todavia, R$ 50,90).

As recordações da infância paupérrima na Martinica trazem o olhar entusiasmado de quem cresceu, no início do século XX, em um lugarejo de subsistência básica, onde plantas ornamentais crescem na terra, sem ter as raízes "aprisionadas" em vasos - o que a menina Françoise vê pela primeira vez ao visitar parentes na capital da ilha. Em Morne-Rouge, ao lado de irmãos e da mãe, costureira, ela é incentivada a estudar e a aprender francês, deixando de lado o idioma local, enquanto toma noção de sua ascendência africana e que a população nativa foi quase toda dizimada pelos franceses invasores. O sincretismo religioso norteia o grupo: todos vão a missas, casam-se sob as bênçãos do padre católico, mas recorrem a médiuns, dos quais acatam recomendações - incluindo a de abandonar a localidade antes da erupção de um vulcão. O fim da infância vem quando a mãe decide pela emigrar para a França, em busca da prosperidade metropolitana.

NA ESTANTE

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A Insubmissa | Foto: Divulgação

A INSUBMISSA
As recordações da uruguaia Cristina Peri Rossi sobre sua infância e adolescência, também prescinde de
categorização literária. Poeta, romancista e ensaísta, ganhou o Prêmio Cervantes, o maior da literatura em
espanhol, em 2021. Radicada na Espanha desde 1972, nunca voltou a morar no Uruguai. A ditadura militar proibiu a circulação de toda sua produção literária no país, entre 1973 e 1985. No livro, a irreverência se desenvolve desde bem pequena. A descoberta pessoal da homossexualidade é apresentada sem culpas. Ed. Bazar do Tempo (R$ 78).

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Cem Anos de Solidão | Foto: Divulgação

CEM ANOS DE SOLIDÃO
O romance que consagrou o realismo fantástico do colombiano Gabriel García Márquez, ganha nova e belíssima edição, com ilustrações da chilena Luisa Rivera. Foi a partir da saga da família Buendia, que funda Macondo, cidade tomada por anos de chuva, publicada em 1967, que se inicia o boom da literatura latino-americana, da qual Garcia Márquez, Prêmio Nobel de Literatura de 1982, se tornaria o principal
representante. O misticismo se mescla à realidade para narrar amores, a curiosidade científica
e a evolução política no vilarejo isolado. Ed. Record (R$ 170,90).

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Diários de Gaza | Foto: Divulgação

DIÁRIOS DE GAZA - A MEMÓRIA É UMA CASA INDESTRUTÍVEL
Reúne textos escritos nos três primeiros meses de ataques a Gaza. Médicos, escritores, jornalistas, cineastas, professores, estudantes, artistas relatam suas próprias experiências ou de outros que veem famílias dizimadas neste inconcebível cerco a uma população lentamente exterminada pelo Estado de Israel. O mundo ainda reluta em combater diretamente a tortura a que essas pessoas são submetidas, pois Israel conta com o presidente dos EUA, Donald Trump, como aliado. Ed. Tabla (R$ 64,90).