Por: Victoria Damasceno (Folhapress)

Em tom de conversa de bar, Valter Hugo Mãe arrebata a Flip

O autor português Valter Hugo Mãe teve os dois livros mais vendidos durante a realização da Flip - a Festa Literária de Parati - realizada na última semana | Foto: Divulgação Flip

Valter Hugo Mãe estava nervoso. Diante de um uma arquibancada cheia no palco principal da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, nesta sexta-feira (1º), o premiado escritor português tentou driblar a própria tensão tirando sarro de suas inseguranças. "Estou muito autoconsciente porque estou muito gordo. Não quero aparecer desfigurado. Essas imagens ficam perpétuas. Nunca mais desaparecem. Fica para sempre com uma autoestima", disse ele aos fotógrafos à sua frente.

Em tom de conversa de bar, com voz altiva, e arrancando risos da companhia - neste caso, o público -, o escritor transportou a todos para sua vida privada, e, por vezes, mostrou as vozes de sua cabeça.
Além das reflexões sobre o próprio corpo, dividiu com o público o drama de ser encalhado, e se mostrou aberto a novos pedidos de casamento, visto que recebeu inúmeros em 2011, quando participou da Flip pela primeira vez.

O autor manteve a leveza, mesmo nos momentos em que se dedicou a falar sobre o novo livro, "Educação da Tristeza", publicado pela Globo Livros, inspirado pela perda precoce do sobrinho Eduardo, morto por câncer no ano passado aos 16 anos, do próprio pai, e da amiga e artista plástica Isabela Lhano, morta em 2023. A obra reúne textos curtos e ilustrações produzidos pelo autor para refletir sobre o luto, a perda e as saudades. "Quando eu digo à minha mãe naquela noite horrenda de perder a Isabel, quando eu digo que está tudo bem, quando eu sou capaz de estar diante dela sem chorar, eu percebi que isso era uma forma de eu educar a tristeza. Fazer com que a tristeza não se sobrepusesse ao amor que eu tenho por Isabel, ao orgulho", diz o autor ao mediador da conversa, o jornalista Walter Porto.

Nesta viagem para participar da Flip, além de falar sobre seus livros, Hugo Mãe veio também divulgar a produção da Netflix inspirada em seu romance "O Filho de Mil Homens". O filme tem direção de Daniel Rezende e Rodrigo Santoro no papel do pescador Crisóstomo. "Eu acho que é possível que o filme seja melhor que o livro", disse.

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Valter Hugo Mãe durante sessão de autográfos de seu novo livro na Flip 2025 | Foto: Sara de Santis/Divulgação

Após a conversa com o autor, foi a vez da escritora Giovana Madalosso e da quadrinista Liv Strömquist tomarem conta do palco. Com mediação da jornalista e produtora cultural Nanni Rios, as autoras debateram assuntos relacionados às mulheres, como a masturbação feminina, relacionamentos e as fases reprodutivas da vida da mulher, como a menopausa.

Em cena que arrancou risos dos convidados, Madalosso comentou sobre a escolha de narrar uma cena de masturbação em seu novo livro, "Batida Só", publicado este ano pela Todavia. "Ontem a gente descobriu que na Suécia não há uma palavra para siririca. Eles têm anascipação, ananismo. Conversando com uma amiga minha portuguesa, eu falei: 'e siririca em Portugal?' 'Não temos essa palavra.' Isso mostra, se a gente não tem nenhuma palavra para isso, o quanto a gente fala pouco ainda. Estamos em 2025 e muitos países não têm uma palavra gostosa para esse ato tão importante, fundamental", disse Madalosso.