Os dolorosos sete anos de ditadura militar na Argentina deixaram marcas em todas as expressões artísticas locais, levando ao surgimento de uma geração de escritores dedicados à ficção de suspense e terror. Um dos mais recentes a chegar ao público brasileiro é Luciano Lamberti, que em "O massacre" (Darkside, R$ 69,90) relata o ficcional surto de violência em uma pequena localidade turística na Patagônia através de depoimentos de sobreviventes, relatórios policiais e discussões sobre as causas da barbárie.
O misterioso motivo para a violência é revelado ao leitor na introdução: um meteorito cai em um terreno do vilarejo, em 1987, e emite a energia que gera delírios, reconhecimento de crimes do passado e a agressividade generalizada. Em entrevistas, Lamberti já disse que monstros e fantástico são desculpas para que encaremos a nós mesmos, sempre falando de algo escondido. Os esqueletos nos armários nem sempre são percebidos pelos moradores do povoado, que matam indiscriminadamente quem veem pela frente. Na leitura, qualquer metáfora com os regimes de força se apequena menor diante da trama, mais envolvente do que explicações e justificativas para a estupidez que domina a população de menos de cem pessoas. As reflexões depois da conclusão, no entanto, levam às culpas, aos temores, a tudo que se abre mão em prol da sobrevivência frente à violência extrema.
Um anti-herói vigarista, charmoso e psicopata foi a mais popular das criações da norte-americana Patrícia Highsmith. Em cinco romances, Tom Ripley rouba a identidade de um rapaz rico que assassina, vive da venda de quadros falsificados e de muitas outras falcatruas. Chegam agora às livrarias brasileiras "O garoto que seguiu Ripley" e "Ripley debaixo d'água" (cada um a R$ 59,90), completando a séria que a editora Intrínseca republicou em março, para celebrar os 70 anos de lançamento de "O talentoso Ripley".
Embora o primeiro romance seja o mais consagrado pela crítica, o fascínio exercido por essa personalidade fria não se limita ao ambiente que Ripley cerca na ficção. A evolução pessoal - e amoral - do personagem é montada a cada volume, garantindo o interesse do leitor. No início, um pequeno estelionatário em Nova York, Ripley vai morar na Europa, onde se transforma em homem cosmopolita, especialista em arte, música clássica e literatura, casado com uma rica herdeira, sempre dependendo de golpes para manter seu status quo.
Incensados pela crítica, os livros se tornaram best-sellers, estimulados não só pelos intrincados enredos, mas devido a excelentes adaptações cinematográficas. Alain Delon, Dennis Hopper e Matt Damon foram alguns dos atores que interpretaram Ripley, imprimindo ao mau-caráter traços da ambígua personalidade descrita por Patricia Highsmith, que deixou os Estados Unidos para se radicar na Europa, consagrando-se como uma das mais cultuadas mestras de thrillers que exploram a culpa - ou a ausência dela. Dizem que o personagem tinha traços da própria escritora, que, no entanto, era conhecida pelo péssimo humor e por preferir a solidão do que viver cercada por admiradores. Em seu distanciamento social, Highsmith tornou o livro de suspense mais do que entretenimento, criando literatura de alta complexidade.