Por: Affonso Nunes

Que saudades do Senhor Bienal! Ziraldo é celebrado no evento com mural, livro inédito, biografia infantil e até produtos licenciados

O mural dedicado a Ziraldo fica na entrada do pavilhão 2 da Bienal | Foto: André Bittencourt/SNEL

A Bienal do Livro Rio 2025 presta uma homenagem comovente a Ziraldo, um dos maiores nomes da literatura infantil brasileira, falecido em abril do ano passado. Pela primeira vez sem a presença física do autor, a feira literária reverencia seu legado com lançamentos inéditos, uma biografia voltada ao público infantil, um mural grafitado de grandes proporções e uma linha exclusiva de produtos licenciados. A celebração ocorre em um ano simbólico, em que o Rio de Janeiro foi nomeado Capital Mundial do Livro pela Unesco.

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Ziraldo, uma das maiores personalidades da história da Bienal do Livro, é festejado em toda parte do evento, com destaque para o mural pintado na entrada do pavihão 2 do Riocentro | Foto: Divulgação

A diretora da GL Events Exhibitions, Tatiana Zaccaro, relembra a trajetória de Ziraldo com o evento. "Ele esteve em todas as edições da Bienal desde 1983. Em 2013, foi o autor homenageado, e a área infantil foi toda inspirada em seus livros. Esta homenagem em 2025 é mais que justa: é uma forma de manter viva sua presença, seu afeto e seu compromisso com a formação de leitores".

O coração da homenagem está no Mural Ziraldo, junto a entrada do Pavilhão 2 do Riocentro. Com 485 metros quadrados de área grafitada, o painel exibe personagens icônicos criados pelo artista, como O Menino Maluquinho, Supermãe, a Turma do Pererê e Uma Professora Muito Maluquinha, além de retratar as famosas filas de autógrafos que Ziraldo atraía em cada edição do evento. "É uma celebração visceral da relação entre Ziraldo e a Bienal", afirma Daniela Thomas, filha do artista e uma das curadoras da instalação. A intervenção artística é assinada pelo grafiteiro Gardpam e sua equipe, com curadoria também de Adriana Lins, sobrinha de Ziraldo, e Mig Mendes.

A instalação, com patrocínio do Riocentro e das editoras Melhoramentos, Maistech e Inteligência Educacional, transformou a entrada do pavilhão em ponto de encontro e parada obrigatória para fotos e homenagens. "É impossível pensar na Bienal sem lembrar de Ziraldo. Apoiar o mural é eternizar seu impacto", afirma Carolina Alcoforado, diretora da Melhoramentos. Para Millena Araújo, CEO da Inteligência Educacional, o autor "foi pioneiro ao abordar temas como preservação ambiental e cidadania com leveza e humor, muito antes dessas pautas ganharem o debate público".

 

Dois novos trabalhos para relembrar o autor

Frequentadores da Bienal transformam detalhe do mural dedicado a Ziraldo em espaço instagramável | Foto: Divulgação

Além da instalação, dois livros marcam presença entre os destaques editoriais da Bienal. Um deles é "O Caminho das Sete Tias" (Melhoramentos), obra póstuma e inédita escrita por Ziraldo na década de 1990. Guardado por décadas, o manuscrito chegou à editora acompanhado de um bilhete do próprio autor: "Vamos guardar para uma próxima oportunidade". A hora chegou. Com narrativa poética e simbólica, o livro conta a história de um príncipe encantado que, ao perder a alegria, embarca numa jornada guiada por sete tias mágicas — cada uma ligada a uma cor, uma nota musical, uma fragilidade humana. O texto é um convite à esperança, à sensibilidade e à busca pelo encantamento, mesmo em tempos sombrios.

A concepção gráfica do livro é assinada por Adriana Lins, também diretora artística do Instituto Ziraldo, que se inspirou na estética de "Flicts" (1969), o primeiro livro infantil de Ziraldo. "Decidimos valorizar o texto raro e dar protagonismo às palavras, com imagens gráficas inspiradas nas formas dos planetas e nas cores do arco-íris. O livro nasceu com uma atmosfera sonora e visual que remete à origem da obra do Ziraldo", afirma Adriana. A obra ganhou trilha sonora composta por Antonio Pinto, filho do autor, reforçando o caráter sensorial da publicação. O livro está disponível em versão impressa e digital.

Outro lançamento marcante é "Peixe Grande" (Global Editora), uma biografia metafórica escrita por Guto Lins, amigo de Ziraldo, voltada ao público infantil. O livro acompanha a travessia de um pequeno peixe de água doce, que, com coragem e imaginação, deixa o Rio Doce e nada até o mar, numa narrativa lúdica que representa a trajetória de Ziraldo, de Caratinga ao mundo. "Ele era um menino que se imaginou desenhista e se transformou em ícone da imaginação brasileira", diz o autor, que também assina "Entre Cobras e Lagartos", lançado no ano passado com imagens do acervo do Instituto Ziraldo.

"Peixe Grande" é o primeiro título do autor no catálogo da Global Editora, que vê na publicação uma forma de reforçar seu compromisso com a literatura nacional. "Ziraldo é um patrimônio cultural. Seu humor, sua leveza e sua sensibilidade formaram gerações. É uma honra publicá-lo", destaca Richard Alves, CEO da editora.

Para o Instituto Ziraldo, a missão é preservar a obra do artista como acervo vivo, capaz de dialogar com novas gerações. "Queremos que os livros, os personagens e a linguagem do Ziraldo continuem vivos, pulsantes, capazes de inspirar crianças e adultos", afirma Adriana Lins. Essa visão se materializa também numa linha inédita de produtos oficiais, disponíveis na loja física e virtual da Bienal. Canecas, garrafas, cadernos e outros itens estampam personagens e frases clássicas do autor, celebrando seu vínculo com a leitura e o universo gráfico.

Entre lançamentos editoriais, resgate de obras inéditas, homenagens visuais e a multidão de leitores que continua a se emocionar com suas criações, Ziraldo permanece, mesmo após sua partida, como um dos grandes protagonistas da Bienal.