Dilemas do mercado editorial brasileiro como a incorporação de novas tecnologias e preservação dos direitos autorais em tempos de inteligência artificial; o fortalecimento das livrarias físicas diante da expansão do consumo digital; e o desafio de formar leitores e a necessidade de políticas públicas permanentes foram os principais pontos de discussão do Rio International Publishers Summit, evento paralelo à Bienal do Livro organizado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) nesta terça e quarta (11 e 12) que reuniu cerca de 200 representantes do setor, entre empresários, editores, agentes públicos e especialistas internacionais.
A realização do evento às vérsperas da Bienal, a maior feira literária do país, reforça o protagonismo da cidade no calendário editorial em 2025, ano em que o Rio de Janeiro ostenta o título de Capital Mundial do Livro, concedido pela Unesco.
“O mais importante é que todos saiam mais ricos do que chegaram. Essa troca de experiências é o que dá sentido a esse encontro”, disse o presidente do SNEL, Dante Cid. O secretário municipal de Cultura, Lucas Padilha, defendeu a leitura como eixo estruturante da política cultural. “O livro é o mínimo denominador comum de todas as artes. E a leitura precisa estar no centro da formação cidadã”, defendeu.
O painel “O poder do livro: construindo o próximo capítulo da indústria editorial” reuniu lideranças de cinco entidades do setor: Dante Cid (SNEL), Alexandre Martins Fontes (ANL), Sevani Matos (CBL), Lara Kouzmin-Korovaeff (Libre) e Ângelo Xavier (Abrelivros). A mesa discutiu os principais gargalos da cadeia produtiva do livro e o papel das livrarias na retomada das vendas. “As livrarias são nosso termômetro. Quando elas sofrem, o setor todo sente”, afirmou Matos. Martins Fontes, por sua vez, criticou o monopólio no varejo digital e pediu políticas públicas que garantam mais diversidade de acesso.
No segundo dia, a programação se voltou para os impactos da inovação tecnológica sobre o setor. Em um painel sobre inteligência artificial e conteúdo digital, os jornalistas Pedro Doria e Cora Rónai compartilharam experiências práticas com ferramentas como o ChatGPT. “Uso todo dia, principalmente para revisar repetições, gerar títulos e treinar texto. Mas não substitui minha voz”, disse Rónai. Doria foi mais direto: “Meu trabalho começa num diálogo com a IA. É como ter um estagiário que sugere caminhos e ideias”, comparou.
Representantes das plataformas Estante Virtual, Bookwire e MVB analisaram o potencial do mercado de e-books e audiolivros no Brasil. “Ainda estamos engatinhando, mas há uma grande oportunidade de crescimento, principalmente com os audiolivros”, acredita Jens Klingelhöfer, CEO da Bookwire. A alemã MVB, por sua vez, destacou o papel da tecnologia no rastreamento de dados e metadados editoriais para ampliar a circulação de catálogos.
O painel final tratou de direitos autorais em tempos de IA, um tema uregente e caro ao setor. Com participação da sueca Anita Huss-Ekerhult, da Federação Internacional de Organizações de Direitos Reprográficos (IFFRO), e de representantes do Ministério da Cultura, ABDR e escritório Murta Goyanes, o debate girou em torno dos limites legais da inteligência artificial no uso de obras protegidas. “Mais de 40 ações estão em curso no mundo sobre uso indevido de conteúdo autoral por sistemas de IA”, alertou Anita. Marcos Alves, diretor de Direitos Intelectuais do MinC, adiantou que a nova regulamentação do Prêmio Jabuti já prevê remuneração para obras que utilizem IA como insumo. “A inteligência artificial pode ser parte do processo criativo, mas isso precisa estar claro e ser remunerado”, disse.