A relação com autores é sempre um equilíbrio delicado, conforme frisa o fundador da Companhia das Letras, devendo ser pautada pela "entrega ilimitada" e "a obrigação de se tornar invisível". Uma editora, segundo ele, deve ser menos "o reino da intuição genial" que do profissionalismo. Já no início, Luiz Schwarcz diz julgar desrespeitoso "contar mais vantagem do que dar crédito a terceiros ou mesmo à sorte". "O fantástico tino de um editor, em muitos casos, é bem menos fantástico do que a loteria dos encontros que a literatura propicia."
É uma postura que surpreende também quem conheceu um Luiz Schwarcz de ego aflorado nos anos 1980, turbinado pelo êxito ascendente como editor, primeiro na Brasiliense de Caio Graco Prado e depois na Companhia. Nesse começo de carreira, escreve, ele se tornou "um ser detestável" especialmente para sua família, pecando na generosidade e pesando a mão no paternalismo. Hoje, afiado na arte da autocrítica, atribui aquele momento egoico a "um desvio por causa do sucesso" em uma "época de desbunde".
"Costumo brincar que ter 'ego trip' depois dos 40 anos já é defeito de caráter. Entrei nisso como a maioria das pessoas, mas o importante é quanto tempo você demora para sair", diz.
O editor de 68 anos, que entrava na casa dos 30 quando fundou a Companhia das Letras, conseguiu pautar público e imprensa com rapidez, o que gerou maledicências que parecem incomodar até hoje. Duas vezes na autobiografia ele se ressente de comentários que o acusavam de ser "melhor divulgador que editor", por profissionais que ele chama de "adeptos da ideologia do fracasso". "Havia editores icônicos que achavam que o fracasso comercial era o que lhes cabia. Era o preconceito de uma elite cultural que entendia que o livro que atingia um largo público não deveria ser bom."
Atingir um público amplo era seu alvo desde o início. Sob a batuta de Caio Graco na Brasiliense, criou coleções como a Primeiros Passos, que convidava grandes pensadores a introduzir conceitos para uma juventude embalada pelo ímpeto de mudar a cultura e o país, à beira da redemocratização.
A lógica seguiu, depois, pelo maior investimento da Companhia em gêneros populares como o romance de entretenimento e a literatura "young adult", uma estratégia que incluiu o lançamento do selo Paralela e a compra da JBC, especializada em mangás. Ao ser questionado sobre áreas em que a Companhia pode melhorar, ele cita a autoajuda.
"Uma das coisas que me interessavam aprender com a Penguin [hoje Penguin Random House] era como fazer um tipo de livro comercial que não era nossa expertise. Você tem que manter o padrão de qualidade, mas para outro tipo de leitor", diz, se referindo ao grupo que comprou o controle majoritário da Companhia há sete anos.
Instado a responder sobre aposentadoria, Schwarcz diz que "tem obrigação" de pensar nisso, até por ter sócios. Mas diz que antes do "pós-Luiz", haverá um outro Luiz. "Em alguns anos não quero mais ser CEO da empresa, mas gostaria de continuar plenamente na minha atividade editorial. Pode ser que primeiro passe a ser diretor editorial, chefe do board. E em outro momento escolher os livros que quero editar. Não quero fazer isso muito velho, para não ter pouco fôlego num momento em que vou estar desfrutando mais, fazendo só aquilo de que realmente entendo e gosto."