Por: Affonso Nunes

Dez anos de escrita insurgente (e periférica)

O editor Felipe Eugênio com a equipe do Bando Editorial Favelofágico e os autores selecionados na quinta residência literária | Foto: Divulgação

O Bando Editorial Favelofágico completa uma década de atividades celebrando a força da literatura periférica. No dia 17 de maio, o coletivo lança seis novos títulos assinados por autores da quinta edição de sua residência literária, que oferece remuneração e acompanhamento editorial durante seis meses. O evento ocorre a partir das 15h, no Bar do Papa, em Cascadura, dentro da programação do Rolé Literário.

Os livros são: "Maré", de Adriana Kairos; "Porque as lágrimas não vertem", de Daniel de Abreu Brasil; "A febre de Momo", de Diogo Lyra; "Mímesis", de Isabel Marz; "Pequenas colisões", de Mauro Siqueira; e "Mormaço", de Steffany Dias. Com preço fixado em R$ 45, os títulos também terão uma cota de distribuição gratuita por formulário disponível no Instagram do selo (@favelofagia). As próximas datas de lançamento são 27 de maio, na Casa Viva Manguinhos, e 5 de junho, no CEASM, na Maré.

Criado em 2015, o projeto já beneficiou 34 autores — a maioria mulheres — e mantém como missão promover a literatura produzida nas favelas cariocas. O editor Felipe Eugênio destaca o caráter estético e político dos textos, que abordam temas urgentes sem abrir mão da experimentação formal. "Ousar na forma literária é o grande desafio do sujeito que tenha intentos de enfrentar, através da trincheira das letras, os 'podres poderes' desse nosso tempo", afirma.

Inspirado na Antropofagia Tupinambá e no Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, o selo também reverbera esse legado visualmente: a logomarca do Bando remete ao "Abaporu", icônica obra de Tarsila do Amaral. A proposta é, a partir das bordas, questionar e recriar o centro.

O alcance do trabalho já transbordou as fronteiras do projeto. Dois autores revelados pelo Bando foram convidados pela Companhia das Letras: Rafael Simeão, com o livro de contos "Quando chega nossa vez acaba" (Alfaguara, 2024), e Janaina Abilio, que ainda terá sua obra publicada.

O Bando Editorial Favelofágico é uma iniciativa sem fins lucrativos, com patrocínio do Centro Universitário IBMR, Nova Rio, Rede Globo, Transegur Vigilância e Segurança e Prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Municipal de Cultura. A gestão cultural é da Sociedade de Promoção da Casa de Oswaldo Cruz (SPCOC-Fiocruz), com apoio da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz.

SERVIÇO

LANÇAMENTO DE LIVROS DA 5ª RESIDÊNCIA LITERÁRIA DO BANDO EDITORIAL FAVELOFÁGICO

Bar do Papa (Rua Cândida Bastos, 164, Cascadura)

17/5, a partir das 15h

Entrada gratuita, com livros à venda por R$ 45

 

Sinopses dos lançamentos

Maré (Adriana Kairos): A história acompanha Isabel e Rodrigo, moradores da Maré, em suas paixões e lutas marcadas pelo desejo e resistência. A narrativa mistura elementos de realismo mágico, com o Casarão da Rua Nova Jerusalém como ponto de resistência e encontros, refletindo temas de identidade e pertencimento.

Porque as Lágrimas Não Vertem (Daniel de Abreu Brazil): A obra aborda o impacto do estresse emocional e da burocracia educacional na saúde mental de um professor, explorando temas como autoagressão, compulsão e isolamento social.

A febre de Momo (Diogo Lyra): Narrativa surrealista e fantástica, ambientada em um Rio de Janeiro atemporal, que mistura carnaval, luta de classes e magia, contando a história de personagens extraordinários em situações cotidianas e de resistência.

Mímesis (Isabel Marz): A história apresenta a luta de duas amigas em um mundo dividido, explorando uma dicotomia social e um relógio que marca o fim da humanidade, enquanto a narradora experimenta diferentes perspectivas sociais.

Pequenas Colisões (Mauro Siqueira): Romance fragmentado que acompanha a vida de Marcos e Estela, abordando os altos e baixos de seus relacionamentos, memórias e reflexões cotidianas, com foco em momentos íntimos e existenciais.

Mormaço (Steffany Dias): Três adolescentes lidam com os dilemas da maturidade e a construção de suas identidades. A obra investiga temas de negritude, fé e autodescoberta, narrada por diferentes perspectivas, refletindo sobre o presente e o passado de seus protagonistas.