A Feira das Yabás é uma verdadeira celebração de ancestralidade, gastronomia e cultura afro-brasileira! Nasceu em Oswaldo Cruz, berço da Portela, em 2008, idealizada pelo cantor e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz. A intenção era valorizar a cultura negra, promovendo encontros que exaltassem a história, a tradição e a espiritualidade dos nossos ancestrais.
Para festejar o Dia do Trabalhador nesta quuinta-feira, 1º de maio, mês em que celebra o 17º aniversário, a Feira das Yabás aporta novamente no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A tradicional roda de samba, comandada por Marquinhos, recebe convidados simbólicos no Dia do Trabalhador: Moacyr Luz e Samba do Trabalhador, a tradicional roda que embala as segundas-feiras no Clube Renascença.
Mas afinal, quem são as yabás? No universo do candomblé e das religiões de matriz africana, yabás são as orixás femininas, poderosas mães da criação. Representam forças da natureza e aspectos da vida como o amor, a fertilidade, a sabedoria e a justiça. Entre elas, destacam-se Oxum, Iemanjá, Oyá (também chamada Iansã), Nanã e Obá, cada uma com sua energia e sua história cheia de axé.
A importância das yabás na nossa ancestralidade é imensa, pois são a memória viva das mulheres africanas que atravessaram o Atlântico, trazendo nos corpos e nos corações as sementes da cultura afro-brasileira. Reverenciar as yabás é um gesto de resistência e amor à história do nosso povo, é reafirmar a dignidade das nossas origens.
As Feiras das Yabás têm como grande estrela a gastronomia afro-brasileira. Cada barraca é um convite irresistível ao paladar, com pratos que têm histórias ancestrais.
Cozinheiras como Vera Caju, Selma Candeia, Tia Edith, Neide Santana, Tia Nira e Rosimeri Cruz, entre outras, apresentam iguarias como acarajé douradinho, abará cozido em folha de bananeira, vatapá cremoso, caruru, moquecas perfumadas e doces como cocada e bolinho de estudante. Tudo feito com muito dendê, leite de coco e axé. A única coisa difícil é saber escolher o que comer, entre tantas delícias.
Marquinhos relembra as origens do evento: ele promovia roda de samba como tempero para uma macarronada com carne assada e feijão, feita pelas pioneiras Tia Edith e Neide Santana. O evento saiu do quintal e foi pra rua. Hoje deixou de ser apenas um evento de samba e comida para atrair empreendedores locais de moda e artesanato. "A feira tornou-se um hub preto", define o sambista.
O clima das Feiras é pura ginga, com muita música de roda, samba de raiz, jongo, capoeira, maracatu e ação dos afoxés. O batuque dos atabaques ecoa no peito e faz o corpo querer sambar, dançar e saudar os orixás. E, é claro, não podem faltar os turbantes, as saias rodadas e os colares de contas coloridas, cada um com seu significado especial.
A ligação com o candomblé é profunda e bela. Durante a feira, é comum haver saudações e oferendas discretas, com todo respeito aos orixás. A presença das yabás é sentida na alegria do povo, na fartura das comidas e na força da irmandade. É um momento de reconexão espiritual. A feira tem papel social importante ao valorizar a economia criativa local, dando espaço para pequenas empreendedoras. Além disso, educa sobre a história africana e afro-brasileira, combatendo o preconceito através do conhecimento e da celebração.
Cada edição é um novo renascimento. Ali, na área em frente ao CCBB, com as barracas enfeitadas, cada risada, cada prato servido, cada tambor tocado é um elo com a nossa África-mãe. A feira é uma verdadeira "festa de axé", onde o passado e o presente se encontram para construir um futuro de orgulho e resistência. E quem passa por lá sente na pele a bênção das mães ancestrais, levando para casa muito mais do que lembranças: leva axé, história e identidade.
*Colaborou Affonso Nunes