Por: Affonso Nunes

Imersão em tradições milenares do povo Maxakali

Arnalda Maxakali exibe as fibras da embaúba recém-raspadas | Foto: Marcos Eduardo Alves Souza/Divulgação

O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, no Catete, apresenta a partir desta quinta-feira (3) uma das manifestações culturais mais singulares do Brasil. A exposição "Hãmxop tut xop - as mães das nossas coisas: artesanato em fibra de embaúba" revela o universo artístico dos Tikmu'un, conhecidos como Maxakali, a única etnia indígena de Minas Gerais que preserva integralmente sua língua ancestral.

A abertura conta com a presença da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e desvenda um patrimônio cultural ameaçado pela devastação ambiental. Os Maxakali habitam o Vale do Mucuri, nordeste mineiro, onde a embaúba - árvore fundamental para suas práticas rituais - encontra-se quase extinta devido ao aquecimento da região, uma das que mais registrou aumento de temperatura no país.

O antropólogo Roberto Romero, curador da mostra e pesquisador dos Tikmu'un há 15 anos, destaca a importância da iniciativa. "Esta é a primeira vez que ocorre uma exposição da arte das mulheres Tikmu'un, uma oportunidade importante para dar a conhecer a admirável tecelagem da fibra natural da embaúba, um patrimônio cultural deste povo", explica o doutor em Antropologia pelo Museu Nacional da UFRJ.

A exposição revela um processo artesanal milenar carregado de significados espirituais. Da casca da embaúba, as mulheres Maxakali extraem fibras para tecer bolsas, redes, colares, pulseiras e máscaras rituais para os espíritos yãmiyxop. O trabalho exige colaboração familiar: homens abrem caminhos na mata e derrubam árvores; mulheres descascam delicadamente, transportam o material e fiam manualmente as linhas em suas coxas.

A etnomusicóloga Rosângela de Tugny, que pesquisa os Maxakali há 20 anos, impressiona-se com a preservação cultural do povo. "O povo possui 12 sistemas musicais, em termos de comparação, como se fossem 12 latins", compara a coordenadora do projeto Terra Viva. "Eles não têm perdas linguísticas. Impressiona a capacidade da transmissão de conhecimento entre eles", destaca após dedicar oito anos ao registro dos cantos tradicionais.

Os 2.629 habitantes Maxakali distribuem-se entre cinco aldeias nos municípios de Santa Helena de Minas, Bertópolis, Ladainha e Teófilo Otoni. Para Rafael Barros, diretor do CNFCP/Iphan, a mostra integra ações multidisciplinares de fortalecimento étnico. "Trata-se da última etnia a falar a própria língua no estado de Minas Gerais!", enfatiza.

A programação inclui a pré-estreia do documentário "Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá", sobre a busca de Sueli e Maiza Maxakali pelo pai separado da família durante a ditadura militar. O filme, codirigido por Roberto Romero, Sueli e Isael Maxakali, oferece perspectiva sobre as lutas contemporâneas dos povos indígenas brasileiros.

SERVIÇO

HÃMXOP TUT XOP

Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (Rua do Catete, 179)

De 3/7 a 28/9, de terça a sexta (10h às 18h) e fins de semana e feriados (11h às 17h) | Entrada franca