Por: Affonso Nunes

Delírios burtonianos: Instalação imersiva com o universo da animação 'O Estranho Mundo de Jack' faz sucesso em SP

Ao longo de 1,5 km de área expositiva no Jardim Botânico de SP, os visitantes se deparam com várias instalações instagramáveis | Foto: Divulgação

Sucesso de público desde sua estreia internacional no Jardim Botânico de Nova York, a instalação imersiva "O Estranho Mundo de Jack de Tim Burton - Caminho de Luzes" segue em temporada em São Paulo até o dia 3 de agosto. Primeira cidade fora dos Estados Unidos a receber a experiência, a capital paulista tem reunido famílias, fãs de Tim Burton e curiosos de todas as idades para uma caminhada noturna de 1,1 km por trilhas cenográficas que mesclam arte, tecnologia e natureza.

Baseada no clássico da Disney lançado em 1993, a instalação reinterpreta o universo sombrio e encantador de Jack Skellington, Sally, Zero e outros personagens do filme com projeções mapeadas, esculturas em 3D, mais de 2 mil pontos de luz e a trilha sonora original da animação. O percurso, montado no Jardim Botânico de São Paulo, transforma a paisagem natural num cenário mágico.

Para tornar possível a versão brasileira da mostra, foi necessária uma operação logística digna de superprodução: 11 contêineres com mais de 55 toneladas de equipamentos foram transportados de Nova York até o Porto de Santos e seguiram em 11 caminhões pela Serra do Mar até São Paulo. A montagem levou cerca de 40 dias e envolveu mais de 30 profissionais trabalhando em turnos para adaptar o espaço ao projeto.

O espetáculo visual é fruto da parceria entre as empresas internacionais Adventurelive — responsável por montagens como o musical "Hamilton" — e LETSGO, conhecida por exposições imersivas como "Tim Burton's Labyrinth". No Brasil, a realização é do Instituto Cultural Opus, braço social da Opus Entretenimento, com direção artística do cenógrafo brasileiro Felype de Lima. Radicado na Espanha e vencedor do Prêmio Max de Melhor Figurino, Felype já assinou projetos na Europa e América Latina, e desenvolveu, para esta mostra, uma proposta que respeita o ambiente do Jardim Botânico ao mesmo tempo em que transporta o público para dentro do universo burtoniano, usando cenografia, iluminação e narrativa interativa.

SERVIÇO

O ESTRANHO MUNDO DE JACK - CAMINHO DE LUZES

Jardim Botânico de São Paulo (Av. Miguel Estéfano, 3031 - Água Funda, São Paulo) | Até 3/8, com sessões noturnas a partir das 18h30

Ingressos: a partir de R$ 21 no site www.oestranhomundodejackcaminhodeluzes.com

 

A poesia animada que 'assombrou' o Natal

O Estranho Mundo de Jack, um antigo projeto de Tim Burton que ganhou vida anos depois | Foto: Divulgação

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Não haveria "O Estranho Mundo de Jack" se não fosse pelo Coringa, o Palhaço do Crime, e seu inimigo do Bem, Bruce Wayne. Os morcegos de Gotham City fizeram voar mundo afora a excelência de Tim Burton como grife autoral no fim da década de 1980, quando "Batman" estreou, em 1989, celebrando os 50 anos de uma HQ que virou coqueluche nas bancas. O endosso dos grandes estúdios, combinado com o prestígio artístico adquirido após "Edward Mãos de Tesoura" (1990), fizeram com que o nome do cineasta de Burbank abrisse qualquer porta, sobretudo a da animação, terra que lhe serviu de ninho.

Ele trabalhou na Disney quando ainda era um galeto a belo canto na arte, há umas quatro décadas e meia. Em 1982, rodou um curta-metragem, "Vincent", que lhe trouxe holofotes. Classificado pela indústria com o rótulo "potencial talento", ele escreveu um poema, naquele ano de sua glória inicial, chamado "The Nightmare Before Christmas". Pensou em fazer dele o mote para um especial de TV e para um livro infantojuvenil. Chegou a esboçar storyboards dessa possível adaptação audiovisual de seus versos com a ajuda do diretor de arte e bamba dos efeitos visuais Rick Heinrichs.

Mostrou o que idealizou para Henry Selick, trocando ideias para um filme. A empresa de Walt Disney viu o que ele tinha em mãos e gostou da ideia de fazer dele um especial natalino de 30 minutos para a televisão. Isso até seus analistas de roteiro e seus engravatados encresparem com o tom tenebroso do enredo e com o apreço de Burton pelo que chamaram de "solitários sombrios". O pé na bunda do cineasta se desenhou ali. Fora da área de cobertura do império de Mickey Mouse, o realizador foi trabalhar para a Warner Bros., onde emplacou, de cara, "Os Fantasmas Se Divertem" (1988), que ganhou uma continuação hiper rentável em 2024 e já tem uma Parte III a caminho.

Depois de fincar bandeira em Gotham e emplacar mais um acerto em "Batman, O Retorno" (1992), com Michelle Pfeiffer de Mulher-Gato e Danny DeVito de Pinguim, Burton teve o sinal verde para desengavetar velhas ideias, entre elas a do espírito zombeteiro do Dia das Bruxas, Jack Skellington, que almeja comer rabanadas com o Papai Noel. Por fina lealdade, Selick foi o artesão escolhido para ajuda-lo na concepção estética... e acabou na direção.

Com a fama de Burton nos píncaros da graça, a Walt Disney Studios concordou em abraçar sua caveirinha natalina, lançando sua aventura cinematográfica pelo selo Touchstone Pictures, ciente de o timbre gótico da trama poderia ser muito sombrio e assustador para as crianças.

Orçado em US$ 17 milhões, a encarnação cinematográfica das estrofes de "The Nightmare Before Christmas", traduzida entre nós como "O Estranho Mundo de Jack", estreou no Festival de Cinema de Nova York em 9 de outubro de 1993 e teve lançamento limitado em 13 de outubro. Faturou cerca de US$ 107 milhões e concorreu ao Oscar de Efeitos Visuais e ao Globo de Ouro de Melhor Trilha Sonora, coroando Danny Elfman.