Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Movimentos que voam alto

Formado por jovens de regiões periféricas, a Cia. Thiago Soares apresenta repertório inédito que dialoga com a dança urbana | Foto: Alessandro Marinho/Divulgação

Thiago Soares, bailarino carioca que virou referência internacional de excelência, abre com 'Gala Brusco', em cartaz no Teatro Multiplan, caminhos para a companhia que leva seu nome brilhar

Meses depois de ter sua história de sucesso internacional narrada em circuito exibidos, no filme "Um Lobo Entre Os Cisnes", o carioca Thiago Soares, dínamo da dança, abre, no Rio, no Teatro Multiplan, os trabalhos da companhia que leva seu nome... e seus sonhos... para o alto. "Gala Brusco" é o espetáculo que marca o início de um novo (e tocante) capítulo na trajetória do consagrado bailarino e coreógrafo, egresso da periferia.

A criação de um corpo de balé com residência no Rio de Janeiro representa para o artista a conclusão de um ciclo artístico e emocional. Depois de uma carreira mundial consagrada, ele retorna à sua cidade natal para fundar um projeto de excelência artística na criação de movimentos, em busca de vínculo direto com o público.

"Minha ideia com a companhia é, obviamente, dialogar com os teatros e dialogar com esse formato que já conhecemos, que tanto amamos, que é com esse público que prepara esse tempo para nos dar. Público que sai de casa, compra o bilhete, pega no carro, vai até ao teatro, para no estacionamento e dedica toda a sua atenção, de uma hora, uma hora e meia, a assistir uma companhia", explica Thiago ao Correio da Manhã. "Nos dias de hoje isso é muito precioso, e queremos manter essa relação com a plateia, que é uma relação única que o teatro tem. Ali está a magia do teatro, mas também queremos ter uma presença de política pública, a mais forte possível", completa.

Essa vontade política, no olhar do ás da dança, que se impôs nos palcos por sua vontade de potência, inclui o desejo de fazer espetáculos nas praças públicas. "Queremos dialogar com esses festivais em lugares abertos, porque sinto que a dança erudita e esse lugar do glamour dos teatros e desse mundo mágico, nos dias de hoje, só fazem sentido se estiverem conectados com a cidade, com a forma como as pessoas vivem e com a vida como ela é. A noção de potência, a noção de fé e a noção de entender as nossas raízes são formas de ampliar a beleza do nosso cotidiano na essência e acreditar e potencializá-lo. É possível transformar este nosso lugar periférico, este estado de presença, em arte, em vida".

Com um elenco formado por dez jovens bailarinos, a companhia apresenta um repertório inédito no País, que flerta com interações das danças urbanas e propõe narrativas próprias em cada obra. O programa reúne coreografias criadas por Thiago ao longo de sua carreira planeta adentro, com peças já apresentadas no México, Estados Unidos e Inglaterra, agora revisitadas e adaptadas para este momento de estreia.

Com sessões às 20h30 no Multiplan, "Gala Brusco" conta com participação especial do pianista Caleb Ruiz e tem como bailarino convidado Hélio Cavalckanti. O elenco da Companhia Thiago Soares inclui Kauêh Costa, Guilherme Saab, João Lima, Karen Rodrigues, Maria Rianelli, Júlia Lisboa, Jessica Ramos, Gabriela Mendes e Cecília Almeida.

Macaque in the trees
Thiago Soares foi tema de um filme que remonta sua vitoriosa trajetória na cena internacional | Foto: Reprodução Instagram

"A dança carioca e a dança brasileira têm uma potencialidade que já não precisam de se justificar. Temos astros, temos estrelas, fizemos História e seguimos a fazê-la de uma forma, humildemente falando, extraordinária. Já viramos filme, ganhámos as maiores medalhas do balé. Chegamos aos maiores pódios possíveis e inimagináveis na dança. Temos muitos protagonistas. E estamos nessa evidência, tanto nacional como internacional", orgulha-se Thiago.

"Apesar disso tudo, a dança, falando de um estado como o Rio, ainda encara uma precariedade na falta de fomento para tornar-se um trabalho. Esse ofício precisa ser realizado como profissão para esses jovens. São poucas as oportunidades. Não existem tantas companhias, e as que existem já têm os seus números de artistas, os seus coreógrafos, os seus produtores. Então, comparando com o número de escolas que temos, falando agora especificamente do Rio de Janeiro, temos poucas companhias, sobretudo, novas companhias, com novos formatos, onde possamos estar ligados à vida como ela é hoje. O mundo hoje vai muito rápido, as companhias mudam, os artistas mudam. Mudam os pensamentos e as formas de fazer isso que já fazemos há muito tempo", explica.

"A 'Gala Brusco' traz esse formato gala, que não é tão visto aqui na cena carioca. E é uma gala, porque eu queria dividir com o público carioca um pouco de tudo o que teremos nos próximos anos, nos próximos capítulos da Companhia Tiago Soares. Eu queria dar a oportunidade de as pessoas entenderem que tipo de repertório vou fazer, quais são as nossas urgências e como vai ser apresentado. Então não podia ser de outra forma: o Balé Brusco é um balé pelo qual tenho muito carinho, que fiz para o Ballet do México e que tinha muita vontade de apresentar aqui no Brasil. É um balé que foi feito de novo, coreografia e música. E é uma ocasião muito especial poder trazer esta obra para cá".