Borda', da Lia Rodrigues Cia de Danças, encerra o Festival Panorama nesta sexta e sánado no João Caetano
A Lia Rodrigues Cia de Danças apresenta "Borda" nesta sexta e sábado (28 e 29), às 19h, no Teatro João Caetano, encerrando a programação do Festival Panorama 2025. O espetáculo, que teve sua première na Bienal de Lyon, marca um momento particular na trajetória da coreógrafa ao propor uma revisão afetiva de 35 anos de criação artística.
O conceito da obra parte dos múltiplos sentidos que a palavra "borda" pode assumir — desde a margem geográfica até o ato de bordar, costurando significados que atravessam questões de pertencimento, alteridade e demarcações sociais. Em cena, a companhia reúne figurinos, objetos e materiais acumulados ao longo de mais de três décadas de trabalho, propondo uma arqueologia cênica que transforma memória em matéria coreográfica. "Nasceu do desejo de revisitar a nossa própria história, de dar nova vida aos figurinos e objetos que acumulamos ao longo de 35 anos de criação", explica Lia Rodrigues. "Reuni tudo isso no palco — materiais de diferentes épocas, tecidos, plásticos, memórias — e, a partir desse acervo afetivo, começamos a bordar um novo mundo, um organismo em que cada corpo, cada elemento, depende do outro."
A coreógrafa, que se consolidou internacionalmente por uma dança visceralmente conectada a questões políticas e sociais, mantém em "Borda" essa característica de engajamento, mas sob uma perspectiva menos literal e mais porosa. A ideia de "lugar intermediário" perpassa toda a montagem, manifestando-se tanto na ambiguidade do título quanto na materialidade da cena, onde fronteiras entre passado e presente, individual e coletivo, arte e vida se dissolvem e se recompõem continuamente. "É um convite para atravessar as fronteiras entre nós mesmos, para sonhar juntos e imaginar outras formas de estar no mundo", completa a artista.
A trajetória de Lia Rodrigues, desde que voltou ao Brasil na década de 1990 após período de formação na Europa com Maguy Marin, é marcada por uma prática artística que recusa a separação entre criação estética e transformação social. Radicada na Maré desde 2004, onde fundou o Centro de Artes da Maré em 2009 e a Escola Livre de Dança da Maré em 2011, a coreógrafa desenvolveu uma metodologia que coloca a dança em permanente diálogo com processos comunitários e contextos de vulnerabilidade. Obras como "Para que o Céu não Caia", "Fúria" e "Encantado" evidenciam essa dança militante, que não abre mão do rigor formal enquanto se posiciona politicamente.
Reconhecida internacionalmente — foi condecorada com a medalha de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras pelo governo francês e eleita melhor coreógrafa do ano pela revista Tanz em 2019 —, Lia mantém vínculos estreitos com instituições europeias importantes, sendo artista associada da Maison de la Danse e da Biennale de la Danse de Lyon, o que explica a estreia de "Borda" justamente na capital francesa antes de sua apresentação no país.
"Borda" propõe uma experiência que opera tanto no plano sensorial quanto conceitual, característico do trabalho da companhia. A reelaboração de materiais de arquivo articula memória e invenção, num exercício de bordar — termo que a coreógrafa usa literalmente — outras possibilidades de imaginação coletiva.
SERVIÇO
BORDA
Teatro João Caetano (Praça Tiradentes, Centro) | 28 e 29/11, às 19h
Ingressos: R$ 50 e R$ 25 (meia)