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Tradição e reinvenção

Moving Landscapes | Foto: Divulgação

O Museu de Arte Moderna (MAM) recebe neste fim de semana duas propostas cênicas que representam vertentes distintas da dança contemporânea internacional. O Festival Panorama, que desde 1992 se dedica a mapear as transformações da linguagem corporal, traz Alessandro Sciarroni, da Itália, e o projeto Quarto, colaboração entre o brasileiro Leandro Zapalla e a sueca Anna af Sillén de Mesquita, em apresentações gratuitas no sábado (15) e domingo (16).

Alessandro Sciarroni apresenta "Save The Last Dance For Me" em três sessões: sábado às 10h30 e 12h, e domingo às 15h. O trabalho investiga a Polka Chinata, dança de cortejo originária de Bolonha que sobrevive principalmente em contextos festivos e populares do norte da Itália. Concebido em colaboração com os dançarinos Gianmaria Borzillo e Giovanfrancesco Giannini, além do mestre de dança Giancarlo Stagni, o espetáculo propõe uma arqueologia coreográfica ao resgatar movimentos de giros acrobáticos e inclinações corporais que caracterizam essa tradição. A abordagem de Sciarroni, reconhecido por fundir conceitos duchampianos com práticas performáticas, circo e esporte, transforma o patrimônio cultural em material para reflexão contemporânea. O artista italiano, agraciado com o Leão de Ouro à Carreira em Dança pela Bienal de Veneza em 2019, construiu reputação internacional ao explorar obsessões e fragilidades humanas em trabalhos apresentados no Centre Pompidou e outras instituições de prestígio europeu.

Macaque in the trees
Save the Last Dance For Me | Foto: Raoul Gilibert/Divulgação

Formado em Artes Visuais e Pesquisa Teatral, Sciarroni desenvolve há anos investigações sobre danças tradicionais em risco de desaparecimento, transformando-as em dispositivos para estabelecer relações empáticas entre performers e público. Seus colaboradores neste projeto trazem formações que mesclam dança e dramaturgia: Borzillo, nascido em 1995 e graduado em Letras Modernas pela Civica Scuola di Teatro Paolo Grassi, recebeu menção especial da Biennale di Venezia por sua primeira obra autoral em 2020. Giannini, formado na mesma instituição milanesa, acumula passagens por companhias de Dimitris Papaioannou e Ismael Ivo, além de parcerias com a coreógrafa Francesca Foscarini.

No domingo às 15h30, o encontro entre Brasil e Suécia materializa-se em "Moving Landscapes", instalação performativa site-specific assinada pela companhia Quarto. Baseados em Estocolmo mas com raízes brasileiras, Leandro Zapalla e Anna af Sillén de Mesquita desenvolvem desde 2018 pesquisas de longo prazo sobre relações de poder entre corpo e objeto. A peça utiliza um cubo metálico e plástico para criar coreografias que investigam vazio e espaço habitável, estabelecendo diálogos visuais com o Construtivismo Russo e a obra de Hélio Oiticica. O grupo, premiado com o Birgit-Cullberg stipendium em 2018, caracteriza-se pelo nomadismo entre diferentes contextos sociopolíticos e pela circulação em mais de vinte países.

A proposta do Quarto apresenta o cubo como arquitetura comunitária, transitória e em constante reinvenção. Essa abordagem, segundo o projeto artístico da dupla, inspira-se na lógica das favelas brasileiras, territórios onde a ocupação espacial responde a necessidades coletivas e produz soluções arquitetônicas orgânicas. A performance explora dimensões ecológicas da relação entre corpos e território, questão central nas pesquisas interdisciplinares desenvolvidas pelos artistas. A parceria entre o brasileiro e a sueca resulta em trabalhos que buscam gerar subjetividade por meio de experiências radicais, linha investigativa que tem rendido à companhia convites de instituições culturais europeias e latino-americanas.

O Festival Panorama completa três décadas de atuação como principal plataforma dedicada à dança contemporânea no Rio. Fundado em 1992, o evento foi pioneiro ao associar programação artística de ponta a ingressos populares, democratizando o acesso a linguagens experimentais. Ao longo dessas edições, consolidou-se como espaço de projeção para artistas brasileiros e latino-americanos, além de trazer criadores internacionais em diálogo com a produção local.

SERVIÇO

FESTIVAL PANORAMA 2025

SAVE THE LAST DANCE FOR ME

15/11 (10h30 e 12h) e 16/11 (15h)

MOVING LANDSCAPES

16/11 (15h30)

Museu de Arte Moderna (Parque do Flamengo) | Entrada franca