A trajetória de Victor Hugo Santana da Silva, de 9 anos, está prestes a dar uma pirueta digna das mais arrojadas coreografias. O menino carioca, que há um ano e quatro meses frequenta as aulas do projeto social ViDançar, foi aprovado na rigorosa Seleção Nacional 2026 da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, realizada em Joinville (SC) no último fim de semana.
Mais do que premiar uma promessa de talento, a conquista significa uma transformação profunda na vida de toda a família, que se mudará para a cidade catarinense. Victor embarca nessa nova jornada acompanhado pelos pais e por um irmão de 15 anos.
Victor fazia ginástica artística no Instituto Hypólito, do campeão Diego Hypólito, até que um belo dia disse para a mãe que queria ser bailarino e que passaria pelo Bolshoi antes de dançar no Ópera, da França. Pelo menos a primeira etapa do sonho está garantida.
Desde o início, o ViDançar acreditou no seu potencial e o preparou com vontade redobrada para essa audição. O pai é professor de jiu jitsu e a mãe é cabeleireira e vende doces e salgados para encorpar a renda. “Valeu todo o sacrifício que fiz para realizar o sonho do meu filho. Ver o nome dele na lista de aprovados do Bolshoi Brasil tirou os meus pés do chão. Ainda vou aplaudir muito o sucesso do meu caçula", comenta a mãe do pequeno bailarino, Jéssica Coelho. “Estamos empolgados com essa mudança para Joinville", garante ela, sorrindo aberto de ver a emoção do filho de estar entre os selecionados para 2026.
O processo seletivo deste ano mobilizou candidatos de 18 estados brasileiros, além de Santa Catarina, e também recebeu inscrições da Argentina e do Peru. Das mais de 3 mil crianças que participaram das pré-seletivas, apenas 320 chegaram à etapa final presencial na sede da instituição. Ao término das avaliações, 38 aprendizes foram aprovados para o Curso de Dança Clássica e outros 20 para o Curso Preparatório, números que dimensionam a competitividade e o nível de excelência exigido pela escola, considerada a principal referência em balé clássico no Brasil e filial do lendário Bolshoi russo.
Durante a seleção, os candidatos foram submetidos a uma bateria de testes. Exames médico-fisioterápicos analisaram minuciosamente postura, estrutura física, habilidades motoras, frequência cardíaca e respiratória, além de força, musculatura e articulações. Em paralelo, os testes artístico-musicais e cognitivos mediram técnica, musicalidade, flexibilidade, projeção cênica e desempenho intelectual. Esse conjunto de avaliações busca identificar o potencial artístico imediato e a capacidade de desenvolvimento ao longo dos oito anos de formação que a escola oferece.
Os aprovados iniciarão o curso em fevereiro de 2026, ingressando na 1ª Série de um programa totalmente gratuito que se estende por oito anos de formação artística intensiva. Como bolsistas, receberão um pacote completo de benefícios que inclui alimentação, transporte, uniformes, figurinos, assistência social, orientação pedagógica, assistência odontológica preventiva, atendimento fisioterápico e nutricional, além de assistência médica de emergência e urgência pré-hospitalar. Essa estrutura de apoio integral permite que crianças de diferentes realidades socioeconômicas tenham acesso a uma formação de excelência que, de outra forma, seria inacessível para a maioria das famílias brasileiras.
A aprovação de Victor representa um marco especial para o ViDançar, projeto social carioca que atua como polo de audições para a Escola Bolshoi. Ellen Serra, fundadora, celebrou a conquista do aluno. "Ficamos muito felizes com essa oportunidade da Escola Bolshoi, oferecida para tantos projetos e jovens talentos. E também nos orgulhamos de ser a sede de audições para projetos sociais do Bolshoi no Rio. É para comemorar muito ver mais um aluno aprovado na melhor escola de referência de balé clássico do Brasil. E estamos encantados com mais essa transformação de vida que o Bolshoi vai dar para mais uma família que sai daqui da periferia carioca para ter mais qualidade de vida e ganhar a formação para o pequeno Vitinho", comentou Ellen.
A coordenadora da Seleção Nacional da Escola Bolshoi, Sylvana Albuquerque, enfatiza que o processo avaliativo considera dimensões que vão muito além da técnica pura. "Muitas crianças vêm de realidades diversas, enfrentando desafios que não podemos imaginar. Elas carregam expectativas, medos e esperanças. Nossa missão é acolhê-las com respeito, empatia e carinho, independentemente de suas origens. Para muitas, essa pode ser a primeira vez que têm a chance de sonhar", afirmou Sylvana, revelando a filosofia humanista que orienta a instituição.
Renata Gouveia, professora que preparou Victor e outros alunos do ViDançar para a seleção, também expressou seu orgulho pela conquista. "É um orgulho imenso a aprovação de nosso pupilo Victor. Seu treinamento foi intenso e esta aprovação coloca mais um lindo aluno nos palcos do mundo. Ressignificar vidas de alunos e famílias é o propósito deste maravilhoso projeto social que faz a diferença para a sociedade carioca", defende Renata.
A história de Victor Hugo ilustra como projetos sociais voltados para a arte podem abrir portas inesperadas para crianças de comunidades periféricas. Em pouco mais de um ano de dedicação ao balé clássico, o menino carioca conquistou uma vaga em uma das instituições mais prestigiadas do país, provando que a arte não tem fronteiras sociais e iniciando uma jornada que pode levá-lo a grandes palcos do Brasil e do exterior. Tudo agora só depende dele.