Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Na torcida pelo Urso de Ouro

'Maigret et le Mort Amoureux' resgata o herói de Simenon | Foto: Dilvulgação

Antes do Oscar, a indústria cinematográfica vislumbra o prêmio da Berlinale, que terá Wim Wenders na presidência de seu júri em fevereiro, quando homenageia a atriz Michelle Yeoh

Wim Wenders tem um histórico polêmico como presidente de júris. Foi ele quem gongou "Faça A Coisa Certa", de Spike Lee, ao comandar a comissão julgadora da Palma de Ouro de Cannes de 1989, preferindo "sexo, mentiras e videotape", de Steven Soderbergh. Em 2008, ao decidir quem levaria o Leão de Ouro de Veneza, determinou que o prêmio ficaria com "The Wrestler", de Darren Aronofsky, com a ressalva de que seu protagonista, Mickey Rourke, deveria sempre ser mencionado como coautor das façanhas por trás daquela obra-prima. Mesmo com vocação para ser incômodo, o realizador de "Paris, Texas" (1984) vai comandar os trabalhos da Berlinale n° 76, para decidir quem leva o Urso de Ouro de 2006 para casa.

O evento alemão, organizado sob a direção artística da curadora Tricia Tuttle, transcorrerá de 12 a 22 de fevereiro, e, logo em sua abertura, vai conferir um prêmio honorário para a atriz malaia Michelle Yeoh.

Há forte especulação acerca de quem poderá estar nas fileiras do Festival de Berlim, incluindo "A Corrida dos Bichos", que o cineasta paulista Fernando Meirelles (de "Cidade de Deus") dirigiu a seis mãos com Rodrigo Pesavento e Ernesto Solis.

Como em 2025 o Brasil saiu de lá com o Grande Prêmio do Júri, dado a "O Último Azul", há uma especulação forte por futuras atrações de nosso audiovisual por lá, incluindo chances para a adaptação de Anna Muylaert da canção "Geni e o Zeppelin", de Chico Buarque - mas nada foi oficialmente confirmado. A voz autoral brasileira mais evocada nas triagens do que poderia concorrer ao Urso dourado é o cineasta cearense Karim Aïnouz, onipresente na cena audiovisual estrangeira. Ele acaba de integrar o júri de Marrakech. Seu novo trabalho, contudo, é uma produção rodada na Espanha, de medula gringa: "Rosebush Pruning". Com gênese amalgamada ao cult italiano "De Punhos Cerrados" (1965), de Marco Bellocchio, o novo Karim acompanha os conflitos de uma família que luta contra doenças genéticas no coração de uma propriedade rural. Seu time de estrelas inclui Pamela Anderson, Elle Fanning, Callum Turner, Riley Keough, Jamie Bell (o eterno "Billy Elliot"), Lukas Gage, Tracy Letts e Elena Anaya. A produção é da MUBI, The Match Factory e The Apartment (uma empresa Fremantle).

No exterior, algumas produções há muito anunciadas carregam expectativa de estarem lá, como "The Way Of The Wind", de Terrence Malick, sobre a vida de Jesus Cristo. Fala-se muito ainda do novo drama do diretor português João Canijo: "Encenação", com Beatriz Batarda. Ele foi premiado lá em 2023 com "Mal Viver". O galês Peter Greenway, sumido há quase uma década, pode regressar com "Tower Stories", tendo Dustin Hoffman como ator principal.

É dada como certa a presença do thriller de horror feminista "The Bride", releitura da atriz e cineasta Maggie Gyllenhaal para o mito da Noiva de Frankenstein, com Jessie Buckley no papel título e Christian Bale como o monstro. Penélope Cruz também está nesse filme. Na linha de elencos estelares, Zendaya e Robert Pattinson podem dar o ar de sua graça no Berlinale Palast à frente do longa "The Drama", sobre as angústias de um casal às turras. Aguarda-se também a convocação de "O Vale do Imaginário" ("Bucking Fastard"), que o artesão autoral Werner Herzog, rodou com as irmãs Kate e Rooney Mara, tendo ainda Orlando Bloom e Domhnall Gleeson de coadjuvantes.

Comenta-se que Pedro Almodóvar estaria tentado a deixar Cannes e Veneza, seus dois habitats básicos, de lado, e optar por Berlim como vitrine para seu "Amarga Navidad". Esse melodrama estreia em 20 de março na Espanha, o que poderia ser um mote para uma opção pelos Ursos. Aitana Sánchez-Gijón, Bárbara Lennie e Milena Smit são suas protagonistas. A trama fala de uma mulher que é abandonada pelo marido em pleno Natal.

A literatura policial de Georges Simenon (1903-1989) há de brilhar pela Berlinale em "Maigret et le Mort Amoureux", com Denis Podalydès no papel do inspetor mais infalível da Bélgica, com Pascal Bonitzer na direção. Diva da prosa criminal, Patricia Highsmith (1921-1995) pode ganhar os holofotes alemães com uma possível escolha de "Switzerland" para a competição. Helen Mirren vive a escritora, mãe do Talentoso Ripley, no filme, que tem Anton Corbjin como seu realizador.

Da França, espera-se ainda "Une Autre Histoire", de Mikhaël Hers, e "Comédie Française", de Bertrand Usclat e Martin Darondeau. Da prata da casa, a Alemanha, esperam-se boas novas das diretoras Angela Schanelec ("Thomas Le Fort"), Emily Atef ("Call Me Queen") e Valeska Grisebach ("The Dreamt Adventurer")

De lavras asiáticas, aposta-se forte na China, com "A Foggy Tale", de Chen Yu-Shun, e "Scare Out", de Zhang Yimou. Saberemos o que pode ou não ser aproveitado desses títulos na segunda metade de janeiro. O sul-coreano Hong Sangsoo, que não sai da Berlinale, deve voltar lá com "At The Middle Of Life". Da Indonésia, a boa é "Sleep No More", terror do badalado Edwin. Do Japão, espera-se porrada, com "Bad Lieutenant: Tokyo", de Takashi Miike.

Até o Natal, a Berlinale vai anunciar atrações de suas mostras Panorama e Geração.