Por: Affonso Nunes e Rodrigo Fonseca- Especial para o Correio da Manhã

Brasil brilha nas semifinais do Oscar

O nome de Wagner Moura tem sido frequentemente especulado para uma indicação ao Oscar de Melhor Ator por seu desempenho em 'O Agente Secreto' | Foto: CinemaScopio

As peneiras da Academia de Hollywood, chamadas de 'Shortlists', coroam "O Agente Secreto' além de reconhecer o país em documentário, curta e direção de fotografia

Na reta final do ano em que trouxe para casa seu primeiro Oscar, dado a "Ainda Estou Aqui", o cinema brasileiro encarou uma das peneiras mais rigorosas da corrida pelas estatuetas dadas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e emplacou seu lugar em diferentes categorias na chamada Shortlist da instituição americana (tipo uma semifinal). Ao todo, o Brasil apareceu em quatro frentes numa etapa em que um grupo seleto de concorrentes é peneirado esperando por uma derradeira filtragem, a das indicações, que serão anunciadas no dia 22 de janeiro.

O país bate ponto na seara de Melhor Filme Internacional e de Melhor Escalação de Elenco, mais conhecida como casting (uma categoria recém-criada), com "O Agente Secreto", que "O" sucesso do momento, visto por um milhão de pagantes. Emplacamos um lugar ainda na peregrinação até a láurea de Melhor Documentário, com "Apocalipse nos Trópicos", de Petra Costa, que está na Netflix. No perímetro do Melhor Curta-Metragem Live Action, "Amarela", de André Hayato Saito, que concorreu à Palma dourada de Cannes em 2024, fez-se notar entre os semifinalistas. Além disso, o paulista Adolpho Veloso foi indicado a Melhor Fotografia pelo trabalho no filme estadunidense "Sonhos de Trem", na grade da já citada Netflix também. Já a ativista Juma Xipaia, líder de uma tribo do Médio Xingu, figura como produtora de "Yanuni", longa dirigido pelo austríaco Richard Ladkani e pré-selecionado para a categoria de Melhor Documentário.

 

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O curta 'Amarelo', de André Sayato Haito, também entrou na lista | Foto: Divulgação
De todos os títulos e talentos aprovados pela Academia na terça-feira, "O Agente Secreto" é o que mais avança na corrida para o Oscar 2026, a ser entregue em 15 de março. Dirigido por Kleber Mendonça Filho, o thriller sobre o professor e pesquisador de uma universidade pública caçado por assassinos de aluguel numa época (segundo o roteiro) de "muita pirraça": 1977. Há só um outro potencial competidor latino-americano no mata-mata: o drama político argentino "Belén", da atriz e cineasta Dolores Fonzi, já em cartaz na Prime Video, o streaming da Amazon. Os rivais de maior peso são o drama (ganhador da Palma de Ouro) "Foi Apenas Um Acidente", do iraniano Jafar Panahi (que representa sua coprodutora, a França); o painel de mágoas entre pai e filhas "Valor Sentimental", de Joachim Trier, da Noruega; o suspense sul-coreano "A Única Saída", de Park Chan-wook; e o thriller metafísico espanhol "Sirât", de Oliver Laxe.

"É uma alegria muito grande receber esse reconhecimento duplo para o filme e o elenco do filme, nesta nova categoria", afirma a francesa radicada no Recife Emilie Lesclaux, produtora de "O Agente Secreto" e companheira de vida de Kleber. "Ainda é um dia muito bom para o cinema brasileiro, com o filme de Petra Costa, 'Apocalipse nos Trópicos', na shortlist de documentário e 'Amarela', na shortlist de curta-metragem. Essa notícia nos dá uma injeção de energia para continuar o trabalho junto à (distribuidora) Neon em janeiro".

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O doc. 'Apocalipse nos Trópicos', de Petra Costa, se debruça sobre a influência das igrejas evangélicas no Brasil e suas consequências | Foto: Busca Vida Filmes

A inclusão do longa na shortlist reforça a boa recepção mundial de "O Agente Secreto", que ganhou a capa da edição de dezembro da revista "Cahiers du Cinéma" (a Bíblia da cinefilia) e foi eleito em quarto lugar na lista dos Dez Mais do ano do periódico europeu. O longa conta ainda com três indicações ao Globo de Ouro: Melhor Filme, Melhor Filme de Língua Não Inglesa e Melhor Ator, que pode coroar Wagner Moura.

O baiano de Rodelas ganhou a láurea de Melhor Interpretação do Festival de Cannes por seu desempenho em parceria com Kleber, que saiu da Croisette com o troféu de Melhor Direção, o Prêmio da Crítica, votado pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci) e um mimo da Associação de Cinema de Arte e Ensaio.

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O trabalho de Adolpho Veloso chamou a atenção de M. Night Shyamalan, que o chamou para fotografar seu próximo longa | Foto: Divulgação Netflix

Desde novembro, "O Agente Secreto" já foi visto por mais de 43 mil espectadores em Portugal; 41 mil pessoas nos Estados Unidos; e 15 mil pagantes na Alemanha. Próximo de superar 100 mil espectadores em territórios internacionais, o filme segue agora para a França (17 de dezembro); passa por um circuito ainda não desbravado dos EUA, que une Chicago, Filadélfia, Atlanta, Seattle e Austin (em 19/12); Itália (29 de janeiro); e Reino Unido e Irlanda (20 de fevereiro). Em janeiro, ele passa pelo Festival de Roterdã, na Holanda.