Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Glória (e ecologia) nas alturas

'Um Passo a Mais' recria a expedição do alpinista Bernardo Fonseca | Foto: Rafael Duarte/Divulgação

 

O documentário 'Um Passo A Mais', de Rafael Duarte, leva o cinema brasileiro ao Himalaia na cruzada esportiva e ambientalmente sustentável de Bernardo Fonseca em prol da Natureza

Escaladas em formações lendárias renderam ao cinema imagens inesquecíveis e doses fartas de adrenalina, a julgar por "Risco Total" (1993), "Limite Vertical" (2001) e o cult nacional laureado em Cannes "Gabriel e a Montanha" (2017) - isso quando se pensa em ficção. No documentário, belezas geológicas como o Himalaia já inspiraram festivais como o Banff (prestigiado muitas vezes no Odeon) e o Krakow Mountain Festival, na Polônia, que, neste fim de semana, acolhe a imersão radical do cineasta Rafael Duarte nos rastros de uma jornada às alturas: o filme "Um Passo A Mais".

A partir desta sexta-feira, a plataforma digital Aquarius, cuja programação está em sintonia com temas ecológicos, sustentabilidade e equilíbrio espiritual, acolhe essa produção, que recria a jornada do empresário, atleta e aventureiro carioca Bernardo Fonseca até o ponto mais alto do mundo, com seus 8.848m acima do nível do mar.

O terreno frio que encarou já foi escalado, segundo dados do Himalayan Database, 12.884 vezes de forma bem-sucedida, sendo que 335 pessoas morreram tentando vencer a montanha desde 1953. Estatísticas alarmantes justificaram a cruzada de Bernardo e seu time: estima-se que no período de um ano, os alpinistas deixem para trás cerca de 100 toneladas de lixo apenas na região da rota da face Sul do Monte. Os dados servem de relevância para a dimensão ambientalista de "Um Passo a Mais"

"Produzir um projeto audiovisual tratando sobre resíduos é um grande desafio, pois as imagens destes tipos de objetos normalmente não são visualmente atraentes", diz Duarte ao Correio da Manhã. "Nossa ideia foi explorar o tema valorizando os ecossistemas de montanha. Ou seja, abordar a questão dos resíduos, mas dentro de um contexto de natureza. Explorando assim o potencial que as paisagens tem de encantar o público e, quem sabe, com isso, gerar pré-disposição para a transformação".

Aos 47 anos, Bernardo completou sua primeira maratona ainda adolescente. Com 17, cravou seu primeiro Iron Man. Mais tarde foi recordista da ultramaratona de 100 km na Antártica, encarando -35° C e percorreu 246 km do deserto do Saara a 53° C. Como alpinista escalou o Island Peak (6.129 m), Kilimanjaro (5.895 m), Elbrus (5.681 m), Aconcágua (6.961 m), Huascarán (6.768 m), Quitaraju (6.040 m), Manaslu (8.163 m) e o Everest (8.848 m). Nessa sinergia com a natureza, ele busca entender o impacto gerado pelo esporte e então se relacionar de forma respeitosa com as paisagens que encontra pelo caminho. Por isso, nos eventos esportivos organizados por sua empresa, a X3M, qualquer pessoa que faça descarte irregular de lixo sofre uma punição de 5 minutos.

Na produção da Bambalaio Filmes, a narrativa começa já na entrada para o monte. O filme retrata diversas ações positivas em andamento para a limpeza e gestão de resíduos, desde as vilas do Vale do Khumbu até os campos altos. Existem depósitos ao longo da trilha até o acampamento base. Lá, uma organização que destina o lixo corretamente para reciclagem e estimula o "upcycling", ou seja, transformam o que foi descartado em peças de arte; bolsinhas de 1kg de resíduos são distribuídas para que as pessoas desçam com elas e descartem corretamente na cidade, entre outras iniciativas.

O filme de Duarte acaba por se tornar num registro de prospecção das comunhões possíveis entre esporte e ecologia.